segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A arte

Uma pequena curta-metragem - a arte e a História. A estética e a moral. O entretenimento e a lição.
(Agora sim, o vídeo está disponível.)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Também é por isto que se dão as revoluções II

Partidos únicos dá nisto.

Mas uma revolução na China seria qualquer coisa de... inexplicável.

A descrição das prisões domiciliárias e da arbitrariedade da detenção são chocantes. E assim se desrespeita e viola de forma tão flagrante e gritante os direitos com os quais todos nós nascemos...
"O activista fala do seu cativeiro na pequena quinta onde vive com a mulher e os filhos, na província de Shandong (Leste). “Não posso dar um só passo fora de casa. A minha mulher também não está autorizada a sair. Só a minha mãe pode sair e comprar-nos comida para conseguirmos sobreviver”, afirma.

Chen, cego desde a infância, tornou-se particularmente conhecido por denunciar os abortos forçados no China, que adoptou a política do filho único como controlo dos altos índices de natalidade.

Em 2006, acusou as autoridades locais de terem obrigado sete mil mulheres a abortar ou a serem esterilizadas, mas foi condenado por “danos intencionais à propriedade privada” e por “juntar uma multidão para perturbar o trânsito” – houve uma marcha de apoiantes seus contra a forma como ele estava a ser tratado pela polícia, refere a AFP. Nesse ano, a coragem da denúncia fê-lo ser eleito pela revista “Time” como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo."

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Também é por isto se dão as revoluções I

Os motivos das revoluções, assim como os motivos de qualquer outro fenómeno, são sempre variados.

Mas um deles pode precisamente ser esta descrição da actuação da polícia egípcia:

(Não reproduzo imagens de Khaled Said aqui, principalmente pelo impacto da sua desfiguração após o ataque policial, mas qualquer pessoa menos impressionável pode procurá-las na Internet. Mas fica de qualquer forma )

"Passava pouco das onze e meia da noite quando Said chegou ao café e, mal tinha acabado de cumprimentar um amigo, entraram dois polícias vestidos à civil. Dirigiram-se directamente a ele, pedindo-lhe identificação. "Vieram por causa dele. Nunca tinham cá entrado membros da polícia secreta", contou agora ao diário espanhol El País Ahmed Manduah, um empregado do café de 20 anos. O filho do dono do café, Haitham Misbah, diz que, ao ver os dois homens agarrar Khaled, lhes perguntou o que estavam a fazer. "Cala-te ou fechamos o café", responderam.

Khaled tentou resistir. "Agarraram-lhe na cabeça e bateram contra uma prateleira de mármore", conta Misbah, num testemunho citado pela Human Rights Watch. Arrastaram-no para a rua. "Bateram com a cabeça contra uma porta de ferro. Bateram-lhe na cara e estômago. Deram-lhe pontapés com tanta força que ele caiu de um degrau. Pegaram-lhe pelo pescoço e bateram com a sua cabeça contra o degrau."

Outras testemunhas contam que Khaled ainda disse: "Estou a morrer." Os pontapés continuaram mesmo quando ele já não se mexia. "Estás a fingir que estás morto?", gritou um dos polícias, antes de ir embora e deixar Khaled na rua. Pouco depois, uma carrinha da polícia levou o corpo.

As autoridades disseram que Khaled morreu ao engolir um saco da marijuana para a esconder da polícia. Não deixaram a família ver o corpo.

Um vídeo denunciando polícias

A polícia terá atacado Khaled por suspeitar que este tinha filmado um vídeo mostrando um grupo de polícias dividindo entre si droga apreendida numa operação. Não é claro se terá sido o próprio Khaled a colocar o vídeo online.

As fotografias tiradas com um telemóvel na morgue mostrando a face desfigurada de Khaled chegaram à Internet, não se sabe bem como. Khaled Said tornou-se um sinónimo das consequências da lei de emergência, um símbolo para jovens normais de classe média, sem actividade política, que perceberam que também eles poderiam ser arrastados de um cibercafé e mortos: Somos todos Khaled Said, como dizia a página do Facebook criada cinco dias após a sua morte. A página registou 4 mil seguidores na primeira hora após a sua criação (agora tem mais de 57 mil e continua a crescer). Começou por mostrar as imagens brutais do cadáver, dar informações sobre a investigação: o primeiro inquérito concluiu que a morte tinha sido causada por asfixia."


A notícia pode ser lida na íntegra aqui.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Evento

IIR 2011 Summer Seminar, island of Tinos, Greece

The *Institute** of **International Relations* (IIR) of Panteion University
of Athens, Greece, is pleased to announce its 20th Summer Seminar, which
will be held on the island of Tinos from June 29 to July 4. The theme of
this year's Seminar is: *History & Philosophy of International Relations*.

We would be grateful if you could share this with students who might be
interested in applying.

The Institute of International Relations <http://www.idis.gr/> (IIR) of
Panteion University of Athens invites participation in the 2011 IIR Summer
Seminar "History & Philosophy of International Relations" to be held June 29
- July 4, Island of Tinos, Greece. Since the summer of 1992, the Institute
has been organizing annually an International Summer Seminar on contemporary
international affairs. The Seminar has, thus far, brought together around
356 students from over 35 countries. Its overall purpose is to provide
opportunities for the creation and consolidation of scholarly networks of
cooperation by offering an international forum through which scholars
exchange information on areas of common interest and disseminate research
findings to advanced students. Applicants should be (post-) graduate
students working towards Masters or Ph.D. degrees. All applicants should be
fluent in English. Applications should be received by *April 22, 2011*.
Please see the website <http://www.idis.gr/summer-seminar/> for more
information.

Cada vez gosto mais da Palestina

Eu sempre disse que Israel estava a perder a amizade cega dos Estados Unidos e isso concretizou-se ainda mais: foi hasteada, pela primeira vez no território americano, em plena Washington D.C. e com a aprovação da administração, uma bandeira da Palestina. Mais um passo no reconhecimento do território palestiniano, mais uma aviso sério a Israel de que os americanos não estão para tolerar muito mais brincadeiras. Até já a bandeira do “inimigo” esvoaça com os ventos americanos. Mesmo que os diplomatas retirem importância a este acto, eu continuo a dizer que o significado e o carácter ideacional e de interpretação das acções é mais forte do que a sua materialidade.

Do campo oposto, na Rússia, vem uma notícia muito semelhante: em visita a territórios palestinianos, Medvedev anuncia que o seu país reconhecerá a Palestina segundo uma declaração de 1988 que mantém. Este passo foi fundamental, pois Moscovo participa tanto no Quarteto para a Paz para o Médio Oriente como é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Isto é fundamental para a sua intenção de declarar unilateralmente a independência de um estado ainda este ano, segundo alguns analistas.


E aqui seguem dois pontos para a Palestina. Palestina: 2; Israel: 0.


(P.S.: Ao contrário de mim, o PS e o PSD parecem não gostar muito.)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Human Planet

Olha que bela ideia…

Pois olha que bela ideia  para os nossos cofre! Poupar € 300 milhões era cá uma economia! Mas não me parece que queiram… Não seria um verdadeiro censo, é certo, mas não será possível uma amostra verdadeiramente representativa? Não vale a pena preocupar-me muito, porque aqui vamos mesmo tê-los.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Algumas da WikiLeaks

Algumas notícias que têm sido publicadas sobre a Wikileaks:

1.      Para começar, o apoio dos EUA às facções democráticas no Egipto e na Tunísia foram fundamentais para a concretização dessas mesmas revoluções;

2.      Um banqueiro suíço foi detido por ter passado à WikiLeaks informações confidenciais de clientes que tinham fugido ao fisco nos seus países de origem;

3.      WikiLeaks denunciam corrupção generalizada em Cuba – em vários organismos e em vários cargos e situações da vida quotidiano;

4.      WikiLeaks foi proposta para Nobel da Paz 2011 por um deputado norueguês (penso que por promover a transparência e a liberdade no mundo. Mas será que isso significou a paz?)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

“Falta de visão”

Foi esta a expressão usada pela Turquia – mais precisamente pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, em Janeiro – para qualificar a posição da UE face à sua adesão. O bloqueio das conversações de adesão e os vistos que a União está a permitir aos países dos Balcãs (por várias vezes negados aos cidadãos turcos) foram o motivo desta avaliação turca da cada vez mais clara falta de empenho e vontade no processo.

Até aqui, nada de novo. Mas reparem no parágrafo final da notícia do EUobserver (http://euobserver.com/15/31640) e o quão contraditórios os diplomatas são:

“Some EU diplomats and Israel are concerned that Turkey is too close to Tehran and that Turkish PM Recep Tayyip Erdogan harbours ambitions to become leader of an Muslim league in a drift away from old Western allies.

Recusam sistematicamente a aproximação da Turquia ao lado ocidental e depois dizem-se preocupados porque os turcos parecem estar a aproximar-se do lado oriental e muçulmano? Alguém aqui não percebe muito de lógica…

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

As Revoluções no Médio Oriente VI

Ainda sobre este tema, aconselho algumas leituras e comentários disponíveis em:


- “Comentário: Efeito dominó ou efeito bumerangue no mundo árabe?” 

 

- President Obama: here is your "game changer" 


- Quanto vale a analogia com o Irão de Khomeini?


Queria deixar uma breve nota, relativa ao facto de o exército egípcio ter dissolvido o Parlamento e suspenso a Constituição, num momento político bastante simbólico de queda efectiva do regime anterior. 


Destaque ainda para as manifestações que continuam no Iémen, na Argélia, no Bahrein e na Líbia. A lista cresce diariamente e só comprovam aquela ideia do dominó.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Onde é que eu já vi isto?

Algumas notícias de ontem deixaram-me com a sensação de déjà vu, nomeadamente:



Estes títulos são bastante curiosos. Três países diferentes e todos afectados pelas dinâmicas revolucionárias dos seus vizinhos. Não, não vou falar outra vez em dominós. Ainda assim, não podemos deixar de notar em todas elas as reacções distitnas dos governos - uns tentam agradar à população, outros nem isso fazem. O importante é que esta centelha da democracia continua com alguma energia em vários pontos do Médio Oriente.

(Não posso ainda deixar de aconselhar a leitura, mais leve e divertida, da notícia da troca de discursos. Achei hilariante.)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A abertura Taliban

A notícia desta relativa abertura dos Taliban surgiu no Público durante o mês de Janeiro e dizia que este grupo afegão admitia a possibilidade de acabar com a proibição da frequência de raparigas no ensino.

Esta proibição, juntamente com a das mulheres trabalharem fora de casa, eram duas bandeiras fortes deste grupo radical já desde a sua formação e mesmo no tempo em que estiveram no poder.

Esta cedência dos Taliban vem na onde de negociações e conversações que o governo tem desenvolvido com aqueles e das quais têm surgido alguns resultados e cooperação. Desconheço o teor desse diálogo, mas espero que a democracia afegã não fique ainda mais fragilizada por estar a associar-se a um grupo fundamentalista. A questão da educação feminina mostra o contrário, mas o que terão pedido em troca?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dominó

No outro dia, publiquei um post qualquer com a imagem de um dominó. Hoje, seguem duas notícias fresquinhas do jornal Público online que exemplificam na perfeição aquilo que eu quis dizer através das imagens:

No Iémen, milhares pedem a demissão de Saleh: "Agora é a tua vez"

Manifestantes marcharam contra cordão policial em Argel.

As Revoluções no Médio Oriente V

Estas revoluções de que toda a gente já está farta de ouvir falar não têm só repercussões nos próprios países e nos vizinhos que já sentem os ventos da mudança. Por todo o mundo, são sentidos efeitos.

Eu destacaria dois blocos: os Estados Unidos e a União Europeia.

Os primeiros tiveram dificuldade em responder à revolução egípcia. Continuar a apoiar Mubarak, aliado fiel de sempre (e que por isso lá continuava há uma data de anos), mas que estava na iminência de ser expulso do país? Apoiar as massas descontentes e evitar que para o lugar de Mubarak fosse um qualquer radical islâmico? Pois, a situação era diplomaticamente muito delicada e foi resolvida com uma mãozinha nos dois lados – pois promove-se a democratização, mas não se trata mal o senhor Presidente (quem sabe ele não irá para os EUA exilado?). Aqui  pode ler-se um comentário de quem conhece melhor os Estados Unidos do que eu.

Pois, quanto à União Europeia, o problema não deixa de ser bicudo. As relações com o Mediterrâneo são próximas e há uma série de documentos nesse sentido (daquelas parcerias todas e da condicionalidade política), mas e ver Ashton no momento da revolução? Ninguém se lembrou da senhora e a senhora não se fez notar. Mais uma vez, mais um teste, mais, na minha opinião, um falhanço. Pois foram feitas algumas declaraçõezinhas e estava tudo resolvido. Não houve proactividade, nem a esperteza estratégica de meter a colherada para depois sentir a recompensa de ter um aliado no governo no Médio Oriente. “A UE exerce um soft power”: aceito e acho muito bonito (ninguém está a pedir para mandarem tropas para lá), mas, por favor, não entendam soft power com invisbible / inexistent power. Já para não falar que nem neste assunto tão simples todos se entendem: o Reino Unido está contra a violência do estado; Itália está preocupada com os motins. E para não perder mais tempo com isto, ficam aqui  e aqui  dois links com mais informações.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

E Mubarak resignou...

... a 11 de Fevereiro de 2011!

...precisamente 32 anos depois da Revolução Islâmica derrubar o Xá.

... precisamente 21 anos depois de Nelson Mandela ser libertado da prisão.

E viva a democracia!

O sofrimento e a morte de todos aqueles que lutaram pela sua liberdade não foram em vão.

Os festejos e as exultações da população podem ser vistas em directo a partir daqui.


(De qualquer forma, nos próximos dias, continuarei a publicar alguns posts sobre estas revoluções que, estando desactualizados, fazem sentido no seguimento dos anteriores.)

As Revoluções no Médio Oriente IV

Pois a revolução na Tunísia não foi caso único neste início de ano, como bem se sabe. O medo das revoluções dominó ou da força gravitacional das democracias e da sua instalação (sobre a questão da gravidade democrática, há um artigo muito interessante cuja referência bibliográfica deixarei em baixo*) acabou por concretizar-se no Egito (parece que agora tenho que escrever assim, não é?), no Iémen e mais recentemente algumas manifestações também na Albânia (que não sendo Médio Oriente, é mediterrânico e, por isso, bastante próximo).

Começando pelo último, as notícias que chegaram na altura em que escrevo este post dão conta de movimentações populares que pedem eleições antecipadas. Não me parece que este caso se aproxime dos restantes três, mas é nitidamente um efeito de contágio que deu coragem à população para exigir, de forma mais proactiva, as tais eleições antecipadas.

Quanto ao Iémen, o Presidente assegurou que se afastaria do poder em 2013, o que lhe dá uma permanência neste lugar de quase três décadas. Também já declarou que não tentará passar o poder para o seu filho (mas isto anda tudo trocado…), como já havia sido pensado. Falou em interesses do país à frente dos pessoais e pediu para não encherem as ruas à semelhança do que se passa na vizinhança. Estas promessas foram já uma grande evolução; no entanto, a oposição pede medidas concretas. Ora, parece que isso não foi, contudo, suficiente e, mesmo apesar dos pedidos do governo, 20 000 pessoas vieram para a rua no “dia da raiva” gritar contra o Presidente. A pobreza, o desemprego na ordem dos 40% e o exemplo do Egipto e da Tunísia ditaram essa raiva. Ainda assim, antes das manifestações subirem de tom, o Primeiro-ministro avisava que não seria tolerada uma “revolução tunisina” no seu país. Resta saber até que ponto terá razão…

Finalmente, o Egipto tem sido o caso mais falado. Directamente influenciado pela experiência tunisina e também ele em fúria pelas condições de vida e pela perpetuação do seu Presidente no cargo, as manifestações têm sido muitas, assim como o desrespeito pelo recolher obrigatório, os confrontos com o exército,… Enfim… Uma revolução com muita perseverança dos cidadãos, que não arredam pé até conseguirem que Mubarak abandone efectivamente o poder. Já não se acreditam em promessas de não recandidatura – querem a saída imediata. E, como dizia uma notícia do Público, ninguém “cedeu no ‘dia da partida’” – o dia que Mubarak abandonaria esse mesmo poder.

(Também na Jordânia aconteceram algumas manifestações e o Rei demitiu o Primeiro-Ministro, mas a situação tem sido menos acompanhada, talvez pela menor força dessas mesmas manifestações e pela suposta acalmia gerada com essa mudança.)

(Ahmadinejad veio dizer que as revoluções a que assistimos começaram no Irão... - Não, não é piada.)

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*Emerson, Michael; Noutcheva, Gergana. (2004) “Europeanisation as a Gravity Model of Democratisation”, Centre for European Policy Studies, Working Document no. 214, November, http://www.ceps.eu/files/book/1175.pdf 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

As revoluções no Médio Oriente 3,5

(Um post entre o de hoje e o de amanhã que é continuação do anterior para comentar algo muito rapidamente!)

Pois que afinal os militares egípcios não eram tão compreensivos como isso, como pode ler-se nesta notícia do Público. Apesar de quase toda a gente os considerar um elemento neutro, que even tualmente serão, de acordo com várias instituições, terá havido violência contra os opositores do regime na forma de tortura, nomeadamente. Isso, sim, é imperdoável - quer aos soldados que o fizeram se não tinham essas ordens, quer aos oficiais que assim o exigiram. 

De qualquer forma, hoje estava eu todo feliz à espera de ouvir Mubarak a resignar e só veio com aquela conversa de não voltar a recandidatar-se... Esperava mais... 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

As revoluções no Médio Oriente III

Já referi por várias vezes o papel dos meios de comunicação na revolução tunisina (e nas restantes a que temos assistido); por isso aqui ficam duas notas sobre esse tema:

1.      A frase twittada inúmeras vezes, da autoria de Mona Eltahawy, não poderia ser mais certa e não deixou de agravar os próprios sentimentos que descrevia,  numa lógica de profecia que se cumpre a si mesma: “Cada líder árabe está a olhar para a Tunísia com medo. Cada cidadão árabe está a olhar para a Tunísia com esperança e solidariedade.”

2.      “A história de Shaheera Amin, a jornalista que se juntou aos revoltosos” (notícia do Público que pode ser lida aqui )

A Paz em risco IV

Li agora a notícia que um Ministro do Sul do Sudão, que será um país independente em Julho, foi assassinado pelo seu motorista, que matou ainda um segurança e se suicidou em seguida.

A lamentar a morte dos senhores, o extremismo desta acção e o seu infeliz simbolismo neste contexto específico...

Formação - pós-doutoramento

Para quem já puder...

Anglo-German “State of the State” Postdoctoral Fellowships
2-year Postdoctoral Fellowships in Political Science or Law, based at the University of Oxford
The Universities of Bremen and Göttingen (Dept of Politics) and the University of Oxford (Dept of Politics and International Relations & Institute of European and Comparative Law) invite applications from scholars for a number of two-year postdoctoral Fellowships based mainly at the University of Oxford.
The Fellowships are open to people of all nationalities who work in the fields of political science, law, history, sociology or economics. The only restriction is that the Fellows should work on the transformation  of the modern state (broadly conceived) with a focus on Western Europe and/or European integration. The programme welcomes international comparative perspectives extending to all parts of Europe as well as comparisons between the European Union and other regional blocks.
This Fellowship Programme, which has been running since September 2009, aims to enable outstanding scholars at the start of their careers to spend time in an intellectually stimulating environment and to turn their finished doctoral theses into an English-language manuscript suitable for publication with a good university press. The programme also intends to establish an international network of leading scholars specialising in the study of the state.
The new Fellows will start in September 2011.  The Programme is open to scholars who hold a doctorate in a relevant discipline (political science, law, history or economics) or can provide evidence of imminent completion (the oral examination must take place by July 2011). To be eligible, applicants should not have completed more than 2 years of academic work after finishing their doctorate by the application deadline.
The closing deadline for applications is 12:00 CET on 28 February, 2011. Please send or email applications to Professor Lothar Probst, InIIS, Linzerstr. 4, D-28359 Bremen, Germany (lothar.probst@iniis.uni-bremen.de).
The further particulars for the fellowship programme can be found here:  http://www.politics.ox.ac.uk/index.php/research-projects/anglo-german-project.html
For further information, please contact Dr Sara Hobolt (sara.hobolt@politics.ox.ac.uk).

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Actualização

Hoje o número de manifestantes parece ter batido todos os recordes no Egipto, o que comprova a teoria de que, à semelhança dos tunisinos, os egípcios também não desertarão até conseguirem o seu objectivo último: expulsar Mubarak do poder.

O entusiasmo da população, segundo alguns sites noticiosos, rejuvenesceu com o incentivo do ex-detido (por 12 dias) executivo da Google que afirmou que o herói não era ele, mas todos aqueles que parmaneciam naquela Praça a exigir a satisfação dos seus pedidos. 

Isto é a manifestação clara daquilo que teoricamente nos fartamos de falar: a soberania popular.

As revoluções no Médio Oriente II

Como disse já, a revolução tunisina começou com o desespero do jovem que se imolou e não mais teve uma pausa até a população conseguir o seu objectivo final e último: a verdadeira democracia e a deposição do Presidente e dos seus governantes.

Não chegaram promessas de não recandidatura, não chegaram mudanças cosméticas de ministros. Em quase um mês, as manifestações não descansaram até que o povo conseguiu que o Presidente tunisino abandonasse o país. E aí, depois do desespero e do sofrimento, veio a catarse, a libertação.

No poder desde 1987, Bem Ali foi, para muitos, o único líder conhecido do país, após o seu golpe de estado e da consequente governação absoluta e completamente “ademocrática”.

Note-se que a imolação inicial, os suicídios que entretanto ocorreram, as mortes às dezenas e as manifestações aos milhares conseguiram depor o primeiro líder árabe desde Saddam Hussein, numa revolução que começou por ser palaciana, mas que foi popular. Popularíssima.

Hoje, deixo aqui o testemunho de um desses jovens que vale a pena ler (e que nos acrescenta ainda o papel do WikiLeaks no reconforto da própria população que se sentiu apoiada, ainda que muito discretamente):

I am part of the new generation that has lived in Tunisia under the absolute rule of President Ben Ali.
In high school and college, we are always afraid to talk politics: "There are reporters everywhere," we are told. Nobody dares discussing politics in public; everyone is suspicious. Your neighbour, your friend, your grocer might be Ben Ali's informer: do you or your father want to be forcibly taken to an undefined place one night at 4am?
We grow up with this fear of activism; we continue studying, going out and partying, regardless of politics.
During high school, we begin to find out the intricacies of the "royal" family and hear stories here and there – about a relative of Leila [Trabelsi, the president's wife] who took control of an industry, who has appropriated the land of another person, who dealt with the Italian mafia. We talk and discuss it among ourselves – everybody is aware of what's going on, but there is no action. We quickly learn that Tunisian television is the worst television that exists. Everything is relayed to the glory of President Ben Ali, who's always shown at his best. We all know he dyes his hair black. Nobody likes his wife, who has a wooden smile: she never seemed sincere.
We do not live, but we think we do. We want to believe that all is well since we are part of the middle class, but we know that if the cafes are packed during the day, it is because the unemployed are there discussing football. The first nightclubs open their doors and we begin to go out, to drink and enjoy the nightlife around Sousse and Hammamet. Other stories are circulating – about a Trabelsi who gave someone a horrible kicking because he felt like it, or another who caused a car accident only to return home to sleep. We exchange stories, quietly, quickly. In our own way, it is a form of vengeance: by gossiping, we have the feeling we're plotting.
The police are afraid: if you tell them you're close to Ben Ali all doors open, hotels offer their best rooms, parking becomes free, traffic laws disappear.
The internet is blocked, and censored pages are referred to as pages "not found" – as if they had never existed. Schoolchildren are exchanging proxies and the word becomes cult: "You got a proxy that works?"
We all know that Leila has tried to sell a Tunisian island, that she wants to close the American school in Tunis to promote her own school – as I said, stories are circulating. Over the internet and under the desks, we exchange "La régente de Carthage" [a controversial book about the role of Leila Trabelsi and her family in Tunisia]. We love our country and we want things to change, but there is no organised movement: the tribe is willing, but the leader is missing.
The corruption, the bribes – we simply want to leave. We begin to apply to study in France, or Canada. It is cowardice, and we know it. Leaving the country to "the rest of them". We go to France and forget, then come back for the holidays. Tunisia? It is the beaches of Sousse and Hammamet, the nightclubs and restaurants. A giant ClubMed.
And then, WikiLeaks reveals what everyone was whispering. And then, a young man immolates himself. And then, 20 Tunisians are killed in one day.
And for the first time, we see the opportunity to rebel, to take revenge on the "royal" family who has taken everything, to overturn the established order that has accompanied our youth. An educated youth, which is tired and ready to sacrifice all the symbols of the former autocratic Tunisia with a new revolution: the Jasmine Revolution – the true one.”

(O artigo foi retirado daqui.)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A paz em risco III

Num terceiro post sobre a questão sudanesa, deixo alguns excertos de um interessante artigo do Público, da autoria de Jorge Almeida Fernandes que pode ser lido na íntegra aqui. 

Os americanos tendem a olhar o conflito em termos de “choque das civilizações”. Para as igrejas pentecostalistas americanas, o Sudão é um palco da guerra entre o islão e a cristandade. Para os negros americanos, é a emancipação dos antigos escravos contra os esclavagistas árabes. Não é o petróleo que faz mover Washington: é a localização geopolítica do país e, sobretudo, a opinião pública americana. 

As coisas são mais complicadas. O conflito remonta a dois momentos distintos. O primeiro é a constituição do Sudão moderno. O segundo é a longa guerra Sul-Norte. 

O Sudão sempre foi uma área de interesse do Egipto: é vital para o controlo da água do Nilo. Foram os egípcios que o unifi caram e colonizaram a partir de 1821. Suplementarmente recrutavam no Sul escravos e soldados. Foram varridos por uma revolta políticoreligiosa, a do Mahdi, em 1883, que se estendeu a todo o país. Os britânicos, que tinham o desígnio de unir o Sudão à Cidade do Cabo por um caminho-de-ferro, socorreram o Egipto e, à segunda tentativa, em 1899, esmagaram o exército do Mahdi e estabeleceram um condomínio anglo-egípcio sobre o Sudão. Durará até à independência. O Cairo foi determinante na manutenção da unidade sudanesa: sempre o Nilo, que determina a sua economia.

(…)

O Egipto, sempre preocupado com o acordo de distribuição da água do Nilo, continua a exigir a unidade sudanesa. A União Africana reafirma a intangibilidade das fronteiras e teme um efeito “bola de neve” sobre outros focos secessionistas. Mas os países da África Oriental apoiam a independência – vêem no novo Estado a fronteira geopolítica entre a esfera africana e a esfera árabe do continente, uma “segunda descolonização”.

O destino de Bashir 

Omar al-Bashir tomou o poder em Cartum em 1989, tendo como mentor o teórico islamista Hassan al- Tourabi. Este terá tentado destituir Bashir em 1999. Foi ostracizado e depois preso. Libertado em 2005, é o pesadelo do poder. Ele e os nacionalistas, de inspiração nasserista, acusam agora Bashir de vender o país e anunciam antecipadamente uma revolta contra a independência do Sul. O mesmo fazem, em tom agressivo, outros países árabes e todos os islamistas. Bashir responde que, em caso de secessão, a lei islâmica será radicalizada no Norte.

Os islamistas temem perder uma base. Os EUA fazem promessas a Bashir se ele se “portar bem”. É uma incógnita. Se o Sul se arrisca a ser um “Estado falhado”, a separação fará do Norte um “país pobre”. Bashir não tem condições para recomeçar a guerra no Sul. Mas que acontecerá se for derrubado?

A porta de saída seria um rápido acordo entre Cartum e Juba sobre o petróleo, o que não é simples, pois entram em choque as ambições. O Quénia gostaria de ver o petróleo sudanês escoado por um porto seu, o que incentiva o Sul a subir a parada. A China, principal explorador do petróleo sudanês, pode ser a chave. Não quer guerra. Será o mediador mais eficaz. 

Como quase sempre, a sorte ou a tragédia de um país são desenhadas pela sua riqueza: neste caso, as águas do Nilo e o petróleo.”

Pois... E agora?

Pois... E agora?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

As revoluções no Médio Oriente

“Revolução” é a palavra mais cara ao status quo e ao establishment. Quando uma revolução arranca, o resultado é dificilmente previsível. A repressão é frequentemente usada; o sofrimento, a morte e o sangue abundam. Mas, paradoxalmente, é também uma altura de alegria e exultação. É magnífica essa capacidade humana de revolução, de manifestação de sentimentos, que é, afinal, do que se trata.

Nos próximos dias, escreverei algumas notas sobre este movimento, já muito debatido, mas ainda assim interessante e importante.

Tudo começou na Tunísia. Não por nenhum motivo em especial em termos políticos, ou talvez sim. E é isso que esta onda de democratizações está a trazer de novo: as revoluções foram, como dizia uma notícia do Público, revoluções do Twitter, do Facebook, da Al-Jazira. Eu acrescentaria os telemóveis, a Internet – em suma, é a revolução trazida pela comunicação e pelos meios que a facilitam; pelo conhecimento, pela awareness.

A imolação do jovem tunisino foi o acender do rastilho – a revolta de um só indivíduo que lembrou a muitos outros aquilo que lhes aconteceu, acontece ou aconteceria; o quão difícil é cooperar com um governo corrupto e uma forma de governação injusta. As redes sociais e os meios de comunicação, nomeadamente a Al-Jazira, fizeram o resto:

“As redes sociais ajudaram. A WikiLeaks terá tido um pequeno papel, com telegramas a mostrarem que não eram só os tunisinos que viam a família Ben Ali como uma máfia - os norte-americanos também. Mas a "velha" Al-Jazira teve um papel fundamental, difundindo para as massas aquilo que os ciberactivistas publicavam na Web.” (artigo do Público que pode ser lido aqui)

Curiosamente, como indica o mesmo artigo, a Tunísia é o país do Magrebe com maior número de internautas. Ora, o rastilho rapidamente se incendiou e a imagem que retirei daqui passou a fazer sentido.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

A paz em risco II

Já há vários dias, escrevi um comentário sobre a situação no Sudão. Apesar de haver alguma distância em termos de tempo, não queria deixar por aí pontas soltas.

Como disse por várias vezes, não sou especialista em África; mesmo assim, arrisco alguns comentários:

O risco de desintegração do Sudão era já bastante elevado. Como se sabe, este país é geograficamente imenso, o que não significa nada por si só, mas que, juntamente com outros factores importantes, nos remete para uma análise mais cuidada da sua integridade. Por exemplo, em termos religiosos, a divisão Norte/Sul ou Muçulmana/Cristã deve ser tida em conta nessa mesma análise. Economicamente falando, o petróleo está no sul e tem que ser exportado pelo norte.

Agora, até que ponto será possível criar dois estados funcionais? Desconheço a realidade sudanesa, mas, pelo que li, não há estruturas burocráticas nem um exército no sul do país, nomeadamente. E isso pode constituir um grande perigo para a concretização desta divisão.

Isto porque, apesar de 99% dos que foram às urnas quererem esta cisão, o que é facto é que o problema está na sua concretização prática. No entanto, a taxa de participação de 60% demonstra precisamente que há uma vontade popular na constituição de uma nova entidade soberana e na sua separação de um estado com o qual, pelos vistos, não se identifica. E, segundo o direito internacional, os povos têm direito à sua auto-governação, à sua auto-determinação e o tempo dos impérios multiétnicos já passou, em princípio. A minha única preocupação é a paz; a paz e a segurança dos cidadãos que espero que esteja assegurada – piorar, penso que não piora.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Regresso e Novidade útil!!

Por vários motivos, maioritariamente profissionais/académicos, tenho estado afastado do blogue, mas isso vai mudar a partir de amanhã. Já escrevi um conjunto de textos que irei publicando diariamente sobre os acontecimentos do nosso mundo.

Para hoje, deixo um extraordinário blogue que descobri e que disponibiliza online imensos livros em formato pdf – os mais variados assuntos internacionais são tratados em dezenas de livros! Vale bem a pena uma visita ao blogue ou ainda a subscrição dos RSS! Podem encontrá-lo aqui. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Curso


O Instituto da Defesa Nacional vai realizar o Curso de Gestão Civil de Crises 2011 (CGCC 2011), decorrendo os três módulos nas datas seguintes:

- módulo 1, “A União Europeia e a Gestão Civil de Crises”, de 28 de Fevereiro a 04 de Março de 2011;

- módulo 2 “As crises e os organismos europeus, interlocutores nacionais e relações com OI e ONG”, de 04 a 08 de Abril de 2011;

- módulo 3, “O Planeamento de uma operação de gestão de crises”, de 30 de Maio a 03 de Junho de 2011.

O Curso de Gestão Civil de Crises (CGCC) tem por finalidade contribuir para a sensibilização e formação de quadros intermédios e superiores das estruturas do Estado e da sociedade civil, habilitando-os a intervir em questões relacionadas com crises em ambientes multilaterais.
As candidaturas para a frequência do CGCC 2011 estão abertas no período de 18 de Janeiro a 15 de Fevereiro de 2011.
Poderá consultar o programa do curso e outras informações em  http://www.idn.gov.pt/index.php.

Curso


Invenção do Oriente na Arte Ocidental
Curso Livre :
Prof. Dr. Manuel de Castro Caldas,  Director do Ar.Co
Duas sessões,   12 e 19 de Fevereiro
Sessões aos sábados, das 10.30 às 13.00 
Sinopse
A invenção ocidental do Oriente tem uma história, uma psicologia, uma política, uma antropologia, etc. O sonho do Oriente é, de igual forma, um fantasma, uma necessidade, uma construção, um pretexto e um alibi. Os orientalismos são como que sintomas de uma civilização - a nossa.
Centrando-se nos registos da arte ocidental, o curso tentará esquissar um retrato dos pressupostos filosóficos e ideológicos e das dimensões temáticas da invenção ocidental do Oriente
I - O Oriente antes do Orientalismo. Outro entre muitos Outros.
II – Imagem e política: o Orientalismo do Séc. XIX e a sua sobrevivência no Séc. XX.

Evento


CONVITE 
A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e  Edições Almedina têm o gosto de convidar V. Exª para a apresentação do livro

Repúblicas em Paralelo
  Portugal e Estados Unidos da América

A obra será apresentada pelo Prof. Doutor José Medeiros Ferreira

Livraria Almedina-Atrium Saldanha (Segunda-feira) dia 7 de Fevereiro - 18,30h

“Repúblicas em Paralelo. Portugal e Estados Unidos  da América” é  a mais recente publicação da Fundação Luso-Americana. É uma obra  bilingue e resulta do colóquio promovido pela FLAD em Maio de 2010 -  no âmbito das Comemorações do Centenário da República em Portugal – reunindo contributos de Alexander Keyssar, da Universidade de Harvard, Horst Mewes, da Universidade do Colorado - Boulder, António Reis, da Universidade Nova de Lisboa (Universidade Nova de Lisboa) e Fernando Catroga, da Universidade de Coimbra. José Esteves Pereira, vice-reitor da UNL, é autor da síntese conclusiva.