terça-feira, 3 de agosto de 2010

Percalço diplomático

As afirmações de Nick Clegg provocaram polémica. O Vice-Primeiro-Ministro inglês não desempenhou correctamente o seu papel, uma vez que estando a representar David Cameron deveria ter ponderado mais as suas palavras ao considerar ilegal a invasão do Iraque, já que nomes pesados do partido conservador também aprovaram a invasão. Tentou corrigir mais tarde dizendo que era a sua posição pessoal, mas isso não evitou um grande deslize no desempenho da sua função. 

A notícia bem explicada no Público, aqui.

10 comentários:

  1. http://blogs.telegraph.co.uk/news/janetdaley/100049682/us-heads-for-civil-war-over-health-insurance/

    Que me dizes, amoreh?

    :)

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  2. Digo que os americanos não se enquadram com o tipo de Estado social desenvolvido na Europa... E como têm liberdade de escolha, podem optar pelo sistema que lhes parece mais apropriado à sua sociedade. Não que eu concorde com a opção da maioria dos americanos, mas também não concordei com a invasão do Iraque e não foi por isso que eles não começaram a guerra... ;)

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  3. E os europeus enquadram-se?

    Qual a opção da maioria deles? E porque não concordas? Ficas sempre a meio e eu sou o maior chato.

    :)

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  4. Não sei qual a opinião dos europeus; mas pelo que me parece, e atendendo à história e às sociedades europeias, estes são muito mais receptivos ao Estado-providência/social do que os americanos.

    Oh! Tu estás farto de saber porque não concordo... Porque os rendimentos devem ser redistribuídos de uma forma justa, para diminuir as desigualdades sociais e dar a todos os indivíduos a possibilidade de potenciaram as suas capacidades e o seu ser. E, para mim, a intervenção do Estado é benéfica nesse sentido, desde que funcione... E porque é injusto alguém não ter direito à educação e à saúde só porque não tem capacidades financeiras para as alcançar. Tu sabes o que eu penso... :) E eu também já sei que vais responder a este comentário com a tua posição sobre a liberdade absoluta e dar aos indivíduos essa total liberdade para que se desenvolvam por eles próprios e que eu os trato como débeis mentais que não conseguem governar-se sozinhos, etc. Verdade? ;)

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  5. Não... Só que tu nunca explicitas os implícitos: "porque os rendimentos devem ser redistribuídos de forma JUSTA, PARA diminuir as desigualdades E etc.". Uma conjunção de finalidade (causa final) seguido de uma conjunção lógica que não justificas. Porque é justo? Porque consegues atingir o fim? Porque conjugas aquelas duas coisas na justiça? O que é o potenciar as capacidades? Qual o padrão? Qual a medida?

    "É benéfica nesse sentido desde que funcione", interpreto isto como "eu acho a coca óptimo desde que não cause habituação e não tenha efeitos secundários". Não?

    "Só porque não tem capacidades financeiras para as alcançar." Só consigo fazer sentido desta tua frase (i.e. compatibilizar com a abolição da escravatura) se a transformar em "é injusto alguém ter direito à educação só porque tem capacidades financeiras para as alcançar". É que alguém tem sempre de pagar a educação porque ela consome recursos.

    Abracinho "moderado" como tu gostas... Sem demasiado afecto porque não há absolutos... =)

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  6. É justo porque minimiza o impacto da injustiça causada pela desigualdade de alguns indivíduos, que, nascendo iguais em termos biológicos, são constrangidos pelo meio em que se encontram. É aquele eterno exemplo: quem nasce numa favela brasileira e é um prodígio em termos artísticos pode nunca vir a ter a oportunidade de desenvolver essa sua capacidade SÓ porque o ambiente que lhe é proporcionado (vide influência do meio familiar no desenvolvimento cognitivo, afectivo, social etc da criança) provavelmente não lhe permitirá que ele se aperceba dessa possibilidade. Trabalhará noutra qualquer área, provavelmente não qualificada, poderá ser um criminoso, etc etc. Ora, ao redistribuir os rendimentos (i.e., ao aplicar determinados impostos que, retirados em pequenas parcelas de cada indivíduo na sua fase produtiva, possam ser distribuídos por todos), gera-se um "fundo geral" que pode perfeitamente ser utilizado para fomentar a gratuidade do sistema educativo e de saúde, nomeadamente, que permitirá a esse indivíduo e a muitos outros (incluindo aqueles cujos pais contribuem para esse mesmo sistema educativo)um contexto de aprendizagem e maturação pessoal que pode potenciar as suas capacidades e promover a sua realização pessoal.

    É uma questão de JUSTIÇA, porque não é JUSTO que eu, sendo igual a qualquer outro miúdo, possa ter tido acesso a instituições que me estimularam durante o meu processo de desenvolvimento pessoal, enquanto que outro teve que se contentar com um quarto vazio, uma família violenta, etc etc. Isto são questões morais, políticas e psicológicas. O padrão e a medida são questões complexas a que não poderei responder assim, mas que podem ser definidas de forma ""moderada"", sem extremismos. Dar a possibilidade de, através da gratuidade, é diferente de obrigar a ou negar o acesso a. É a isso que me refiro.

    Eu dou liberdade de escolha a cada um. Não haver diferentes opções é que é limitar essa liberdade com a qual cada ser nasce. O pai não tem dinheiro, ele não pode estudar, queira ou não: é falta de liberdade. É um condicionalismo. Isso sim causa danos na liberdade...

    Naturalmente alguém paga os recursos consumidos pelo sistema de educação. Cada indivíduo aloca uma parcela do seu rendimento para esse "fundo geral" e contribui para esse sistema. No futuro, o miúdo das favelas poderá ser uma pessoa mais feliz (no seu conceito pessoal de felicidade e realização) e contribuirá, como pessoa produtiva que o próprio sistema gerou, para que a outros sejam oferecidas as mesmas possibilidades...

    Bem, não sei se fui muito confuso. Estou a escrever de enfiada e posso ter perdido a coerência. Perdão! Mas espero ter feito perceber o meu ponto. Acho que me esqueci de algumas coisas, mas pronto...

    Outro abraço moderado para ti também! ;)

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  7. André, acho que confundes justiça com fairness. E não me parece que tenhas uma ideia de liberdade muito optimizável.

    É que se te leio bem, então se eu saltar da janela e não conseguir voar é uma limitação do meu arbítrio... Mas a liberdade nunca é absoluta nesse sentido. Tem sempre de se contextualizar e qualificar na realidade objectiva. E isto não é só para os meninos das favelas, mas para qualquer entidade. Podes é dizer-me que uma pessoa educada desenvolve mais um conjunto de capacidades cognitivas que lhe permitem conceber outras possibilidades de acção... Mas isto não só não é trivial como não é possível determinares em que medida isto é assim.

    Quando venho para casa da faculdade não sou "livre" de vir de helicóptero. Mas posso escolher de um acervo menor de meios de transporte e de percursos. Isso é que é relevante. Portanto basicamente o que entendo daquilo que me dizes é que o Estado deve agir no sentido de aumentar o conjunto de possibilidades de acção dos indivíduos? Mas esse aumento não causa uma alteração? (Se eu sou fomentado a estudar 12 anos em vez de 9 já não quero ser padeiro mas cabeleireiro, por exemplo. Por que razão estou melhor? Segundo que critério?) E então não é melhor levar ao limite e agir sobre os indivíduos de forma a que decidamos o que ele subjectivamente achará de melhor para si? Mas quem decide? Segundo que critério? Como? Com que legitimidade? Como compatibilizas isto com democracia?

    Claro que isso de não ter dinheiro não poder estudar deturpa o problema... O meu pai começou a trabalhar com 9 anos e fez o esforço de estudar até ao 12º sempre a trabalhar e a sustentar os irmãos...

    E porque só me falas de condicionalismos sociais? E os naturais? Se nasceres mais burrinho do que outra pessoa és menos "livre"... Vamos então tributar quem é mais porque teve "sorte"? Mas quem decide isso? Com que critério? Como?

    O teu problema, que é um problema da nossa sociedade, é a incapacidade de pensar em termos de exigências mínimas. A tua função objectivo é nitidamente de maximização. Mas tu não consegues maximizá-la! É impossível! Não tens capacidades nem ao nível de stock de conhecimentos nem ao nível computacional para maximizares. Olha o caso da bomba atómica de há bocado... Se o critério de avaliação da decisão for "número de mortos", nunca vais poder dizer se a decisão foi boa ou má porque não sabes quantos teriam morrido se ela não houvesse sido detonada. O mesmo aqui... Eu não posso maximizar a liberdade (na tua concepção) de todos sujeita à restrição da igualdade, pelo simples facto de que eu nem sei operacionalizar isso! Vou cair no erro e no absurdo.

    Claro que o mundo ideal na minha cabeça era um em que toda a gente fosse no cômputo geral o mais feliz possível! Mas dada a realidade eu posso, no máximo, garantir condições mínimas de acção aos indivíduos que lhes permitam a eles cuidarem de si, aceitando o velho adágio de que 2 cabeças pensam melhor que 1: eles sabem melhor hoje o que é melhor para eles hoje do que eu. Cada um tem de lidar com as suas contingências porque eu não consigo fazer uma avaliação transindividual dos lagrangeanos das restrições à função objectivo para ver quais são activas ou não... =P (Se calhar não é a tua pobreza mas a tua fealdade que te restringe, por exemplo!)

    Só um sistema livre consegue incorporar toda esta decisão. (Aconselho-te a investigares sobre a economia austríaca que entende o preço como um veículo de transmissão de informação) Se garantirmos umas exigências mínimas que vão ao encontro daquilo que os nossos limitados conhecimentos nos recomendam, fizemos tudo o que podíamos. E, em boa verdade, creio que já é suficiente para garantir um mundo JUSTO se bem que não igualitário. O laissez-faire é, no meu entender, a melhor solução para a pobreza e exclusão social e o único sistema compatível com a paz e os direitos fundamentais.

    Abraço extremado =)

    P.S. Também escrevi de chofre.

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  8. Eu aceito o teu abraço extremado e respondo-te com um moderado! ;)

    Mas há algumas premissas que, apesar de soarem muito racionais, acabam por, na realidade, promover a desigualdade de que falamos e que não consigo aceitar. Mas eu penso que esta questão é ideológica.. Eu percebo algumas das tuas considerações, mas ainda assim custa-me muito aceitar que garantindo aos indivíduos a optimização da sua liberdade garanta uma vida mais feliz para um maior número de pessoas. Esse abandonar cada um à sua sorte iria desproteger aqueles que mais necessitam de ser protegidos de um sistema que não se compraz com fraquezas. E já que muitos têm que lidar com a fealdade, ao menos que não tenham que aguentar também com a incapacidade intelectual, percebes?

    É muito tarde; já não consigo raciocinar...

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  9. André... Não promovem. Aceitam a realidade! Não eliminas desigualdades por decreto. Tu crês que as podes atenuar nos seus efeitos. Mas, como tentei mostrar-te acima, nem é possível medires o impacto positivo ou negativo na felicidade subjectiva dos sujeitos desses efeitos. Portanto vais agir na escuridão!

    Tu não estás a "abandonar cada um à sua sorte". As pessoas são solidárias e ajudam-se. Posso não parecer, mas conheço algumas pessoas em franca exclusão social, e digo-te que os principais apoios que têm não vêm do Estado mas dos seus vizinhos, conhecidos e associados. Aliás, se isto não fosse assim o teu "Estado Social" nunca teria tido pés para andar. ;)

    A questão é que tu achas que existir um subsídio ou uma escola "tendencialmente gratuita" que vai fazer a diferença.

    Uma notícia engraçada que talvez te mude o ponto de vista:

    http://www.telegraph.co.uk/motoring/news/7931842/Speed-camera-switch-off-sees-fewer-accidents.html

    Abraço

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  10. Sim.. Essa solidariedade tem realmente muito peso. Acho que era o Firmino da Costa que tinha uma expressão engraçada para definir essa entreajuda.

    A notícia é engraçada, mas não me convenceu.. Mas é, sem dúvida, uma excelente ilustração da tua perspectiva...

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