sábado, 7 de agosto de 2010

In Memoriam

6 de Agosto de 1945
8 e um quarto da manhã.
Já premiste o botão
que fez descer 100 milhões de graus centígrados - morte
e erguer da terra um belo clarão
enorme e deslumbrante.
Missão cumprida.
Espera-te um país reconhecido
e mais tarde
os pés no vazio
quando souberes que
em poucos segundos, sob as tuas asas,
desde as ruas e jardins do centro
até aos campos em redor,
homens, mulheres, crianças e animais
foram varridos por um vento
que pulverizou tudo o que encontrou no seu caminho;
que alguns sobreviveram gritando queimados de morte
entre cinzas e cascalho,
que os arrozais perderam a verdura
e a relva ardeu como palha seca.
Número total de mortos: cerca de 70 000.
Um belo clarão...
enorme, sábio, deslumbrante.
A teu lado alguém pergunta:
Meu Deus, que fizemos?...
José Luís Tinoco


5 comentários:

  1. Uma boa pergunta: achas que a detonação das bombas foi um erro?

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  2. Uma óptima pergunta, sobre a qual nunca tinha pensado com alguma profundidade. (E não posso debruçar-me muito tempo sobre ela hoje também) Mas o que me ocorre? É claro que eu compreendo o papel das bombas

    a) no contexto da estratégia da II GM;
    b) no contexto daquela, que já começava a formar-se, sociedade internacional pós-II GM.

    O significado da bomba é explícito. Supremacia incontestável americana, vitória dos aliados, dissuasão e confronto com a União Soviética (que os EUA nunca esqueceram ser um totalitarismo de esquerda), etc. Além de que serviu ainda para o propósito muito específico de impedir a URSS de invadir o Japão, mas isso são pormenores que não vale a pena apresentar aqui.

    No entanto, apesar de reconhecer a "facilidade" e imediatez desta solução em termos estratégicos e políticos e todas as consequências tão visíveis nos dias de hoje, não posso deixar de a considerar um erro pela mortandade, sofrimento e destruição que causou, porque os fins não justificaram os meios. E nada há de mais valioso, quer se fale em RI ou qualquer outra ciência (social ou não), do que a vida humana.

    Satisfeito? O que pensas tu?

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  3. Satisfeitíssimo. =)

    Eu não tenho (ainda) conhecimentos para formar uma opinião. Agora falas em mortandade... Certo, mas há que comparar com uma situação sem bomba! Se alguém provar que o Japão não teria capitulado tão depressa sem a bomba e que esse tempo extra resultaria em mais mortes do que aquelas que a bomba causou, então a mortandade per si passa a pender em favor da bomba... Certo? Claro que isto é impossível de se estimar. E a avaliação da decisão tem de ser feita do ponto de vista do momento em que foi tomada.

    Ah! Para mim (e, ou muito me engano, para ti também) um civil ou um militar involuntário (quase todos na altura...) são ambos mortos inocentes. (Isto para eliminar o pathos das afirmações como "morreram x mulheres e crianças" ou "x civis")

    Abraçoooo

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  4. O custo do não uso da bomba também tem que ser ponderado, naturalmente. Mas penso que mesmo sem bomba a guerra não teria durado muito mais. O Japão demoraria mais a capitular, mas com o avanço das tropas russas, libertas da frente ocidental, isso não demoraria o tempo suficiente para tantas baixas... Mas esta avaliação não é rigorosa, naturalmente.

    E sim, para mim qualquer morto numa guerra equivale à morte de um inocente.. Não discordamos! Yupiiii! ;)

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  5. A letra pode ser escutada neste fabuloso cd:

    http://elementmusical.blogspot.pt/2013/10/saga-homo-sapiens.html

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