quinta-feira, 10 de junho de 2010

Two Exits

Robert Gates, Ministro da Defesa dos EUA, numa viagem à Europa, punha a tónica num ponto realmente importante, apesar de não ser o único: a Turquia e a evolução recente da sua política externa, marcada por uma reaproximação ao Oriente, conjugada com um afastamento a antigos aliados "ocidentais" como os Estados Unidos ou Israel, estão directamente ligadas com as relações que aquele país tem estabelecido com a União Europeia.

Como é sabido, se há processo complexo na UE, é o da adesão da Turquia. Por todas as questões económico-financeiras, políticas, sociais, etc. que esta adesão levanta, o processo vem-se arrastando lentamnte há anos. E Gates afirmou, com alguma razão, que este relacionamento problemático (no qual se incluem afirmações dos líderes francês e alemão sobre a impossibilidade dessa adesão) é um dos responsáveis pelo afastamento da Turquia do Ocidente. País entre dois mundos, a Turquia sempre foi um território disputado em termos estratégicos. Sendo ignorada numa frente, começa a virar-se para outra, como se compreende.

Agora a grande questão é esta: como resolver esse problema das relações UE-Turquia? Até que ponto é que os decisores têm vontade de o resolver efectivamente? Continuará tudo assim e a Turquia afastar-se-á progressivamente da sua vertente ocidental? Ou receberá, após esta crítica americana, algum impulso da União?

9 comentários:

  1. André, podes explicar o "Sendo ignorada numa frente, começa a virar-se para outra, como se compreende." - eu sou economista! não especialista em relacionamentos internacionais.

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  2. Sorry sorry!

    A Turquia, como sabes, está ali numa situação híbrida (estratégica) entre dois continentes, entre duas civilizações, etc. De um lado, tem os países muçulmanos, do outro o "Ocidente". Nas últimas décadas, a Turquia tem-se aproximado sempre mais do lado ocidental - candidatura à UE, adesão à NATO (é o único país muçulmano na NATO), aliança com os EUA, amizade com Israel,etc. No entanto, ultimamente, com o Primeiro-Ministro Erdogan (que é um conservador muito pouco virado para o secularismo de Atatürk, o fundador da República turca) e nomeadamente com as difíceis relações com a Europa, que continua a dificultar a entrada da Turquia, a paciência deles têm-se esgotado e começam a virar-se para o lado Oriental, ou seja, para os seus pares também muçulmanos, como é o caso do Irão.. Ou seja, não sendo valorizada pelos europeus a sua faceta ocidental, a Turquia vira-se para quem pode dar-lhe um papel central na região do Médio Oriente - ela seria uma "líder" natural dos países muçulmanos daquela região, uma vez que tentaria ter um bom relacionamento com todos e pode funcionar como uma ponte com o Ocidente... Mais claro agora ou fui confuso? É que são muitos dados.. Lol.

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  3. O que eu não percebo é essa tua naturalidade do "virar-se"... "Começam a virar-se"...... Não sei! Porque "se viram"? Porque não fazem birra e olham para as ilhas Seychelles? Talvez te soe estúpido, mas não consigo intuir essa necessidade de se "virar" para lado algum. =(

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  4. Sim, de facto parece que não têm alternativas.. Mas é que não terão mesmo... Porque atendendo a esta rede internacional de dependências económicas, político-diplomáticas, culturais, etc., os países não podem a) estar sozinhos, b) ignorar certos parceiros, c) escolher outros aleatoriamente (como no caso das Seychelles). Olha, a Turquia tem no seu território bases militares americanas. Até que ponto é que os EUA podem contrariá-la muito sem se arriscar a que os turcos os mandem retirar de lá as bases e os americanos fiquem sem aquele importantíssimo posto no Médio Oriente? Quem diz isso, diz a política energética que passa pelo Mar Negro, a do Cáucaso, da Rússia, etc. Há estas ligações entre os países que nenhuma política externa pode esquecer.. Por exemplo, a Ucrânia, aquando da Revolução Laranja, tornou-se mais "ocidental". Viu os fundos europeus aumentarem imenso, cresceu e enriqueceu, consolidou-se, etc. Com o novo presidente, "virou-se" mais para a Rússia, afastar-se-á (num futuro próximo, eu diria) dos padrões europeus, o que trará custos para as suas relações com a Europa, mas que trará vantagens para a sua política energética (a Rússia, por retaliação tinha aumentado não sei quantas vezes o preço do gás natural por causa desse "virar" de costas e de outras questões..). Como diria alguém que conhecemos, há todo um conjunto de ligações e relações que os países têm e que não podem ignorar, sendo "obrigados" a desenvolver uma política externa de acordo com os seus interesses... Um aliado da Índia, dificilmente será um grande amigo do Paquistão (por causa de questões fronteiriças entre os dois países...); quem se der bem com os israelitas não pode abraçar-se muito aos palestinianos; etc. Ou se "vira" para um lado ou para outro... In sum, you can't have the best of both worlds...

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  5. Tu nunca estudaste Game Theory pois não? Acho que te ia ajudar no teu PhD. =D Há muitas aplicações em RI não há?

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  6. Obrigado!
    Já li alguma coisa sobre a teoria dos jogos, já.. Achei engraçado, mas não podia perder muito tempo com isso na altura. Sim, há inúmeras aplicações em RI. É uma das metodologias usadas pelos que pretendem garantir alguma objectividade às RI... Depois de fazer o trabalho final de curso, aprofundo essa área.. ;)

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  7. E nessa altura teremos A conversa - sobre os perigos do neoclassicismo.

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  8. O neoclassicismo que falas é em termos científicos algo equiparado ao movimento cultural neoclássico? Terá algo a ver com o positivismo ou algo do género?

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  9. http://en.wikipedia.org/wiki/Neoclassical_economics

    Sim a tudo! =)

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