Muito se tem escrito e dito sobre a Polónia após o trágico acidente de há alguns dias. No entanto, depois de ter lido este texto, não posso deixar de aconselhá-lo, pela clareza da sua visão e pelas explicações úteis sobre a nova situação do país e o que se segue a um acontecimento desta natureza que apanha qualquer estrutura de liderança desprevenida. Pode ler-se neste link ou aqui mesmo no blogue.
Texto retirado do Público de 13 de Abril de 2010, da autoria de Jorge Almeida Fernandes:
Polónia: As instituições funcionam, o resto é incerteza e especulação
"A Polónia está em choque, não em crise institucional. A palavra decapitação, exacta para a dimensão da tragédia, é politicamente enganosa. Não há vazio nem deriva. Há incerteza. Incerteza em relação às querelas que fracturam a Polónia e, sobretudo, em relação à Rússia.
A elite política sofreu uma catástrofe sem precedentes. Desapareceram o chefe de Estado, os comandantes das Forças Armadas, o chefe dos serviços secretos, o presidente do Banco Central, muitos parlamentares e dois dos candidatos às presidenciais.
Mas as instituições "responderam sem soluços". O líder do Parlamento, Bronislaw Komorowski, ocupou interinamente o lugar de Lech Kaczynski na Presidência da República e convocará eleições. Os chefes militares foram substituídos pelos seus vices. As nomeações definitivas virão depois. Não são necessárias eleições para preencher os lugares dos deputados mortos, apenas para os senadores.
"É uma situação dramática, traumática e que muda de dia para dia, mas é absolutamente certo que a estabilidade institucional da Polónia está assegurada pelas regras constitucionais", diz à AFP o constitucionalista Edmund Wnuk-Lipinski. É a constatação dos factos. Entrando nos desejos, acrescenta: "Espero que esta tragédia permita à política polaca concentrar-se mais nas questões de fundo e menos na política partidária, negativa e emocional."
Há dois níveis de incerteza. O primeiro diz respeito à agenda política. As eleições presidenciais, previstas para Outubro, vão ser antecipadas. O favorito nas sondagens era até agora o homem que substituiu Kaczynski, o liberal Komorowski, da Plataforma Cívica (PO), o partido do primeiro-ministro Donald Tusk. Desapareceram na tragédia os seus dois grandes concorrentes: Lech Kaczynski e o pós-comunista Jerzy Szmajdzinski. O quadro eleitoral foi radicalmente alterado.
Ignora-se também o efeito da catástrofe sobre o partido Direito e Justiça, dos gémeos Kaczynski. Perdeu a maioria dos dirigentes. Que irá fazer o seu líder, Jaroslav Kaczynski? Vai ser relançado por uma vaga de simpatia popular? Ou serão Donald Tusk e a PO a capitalizar a comoção? São perguntas sem resposta.
O Presidente tem poder de veto mas não governa. A Polónia vivia em "coabitação", conflitual mas sem drama. A maioria dos analistas pensa que o Governo irá manter as grandes linhas da sua política, interna ou externa.
A segundo e mais importante incerteza diz respeito ao impacto da tragédia na sensibilidade nacional. O desastre de Smolensk fica associado a Katyn, lugar trágico da memória polaca.
Que impacto terá a comoção desta semana nas querelas históricas - e na utilização do passado como arma política - que têm dilacerado o país?
E, sobretudo, que impacto terá esta "segunda Katyn", de que falou Walesa, na relação com a Rússia? Fará explodir a uma nova vaga de suspeição? Ou, ao contrário, como disse à BBC o ministro dos Negócios Estrangeiros, o atlantista Radek Sikorski, "a reacção exemplar dos russos" poderá, "paradoxalmente", melhorar as relações russo-polacas? Esta é a mais importante incógnita." "
LOL
ResponderEliminarMas alguém tem dúvida de que qualquer político qua político é perfeitamente substituível. =P
É um absurdo valorizar macacos como se fossem cisnes.
Gostei da comparação dos macacos e dos cisnes.. Há quem prefira os primeiros e considere a comparação negativa para os cisnes..
ResponderEliminarPois.. Os políticos vistos como um grupo à parte! Auto-excluir-se-ão como algumas minorias? Loool!
O político nunca ultrapassou aquela fase do desenvolvimento em que achas que a lua anda atrás de ti.
ResponderEliminarO que o político se esquecesse é que é apenas carne para mecanismo, como a tua notícia exemplifica. Há um status quo, o indivíduo particular raramente tem importância.
Colectivices...
"Carne para mecanismo"... Deduzo então que te afastes da concepção realista de política externa, por exemplo. Os realistas dizem que a política externa é levada a cabo pelo indivíduo, neste caso, o chefe de Estado/governo. E que é a sua racionalidade que o impele e que determina essa mesa política externa.
ResponderEliminarEntão defendes que, como diria alguém que ambos conhecemos, é todo um conjunto de factores externos que condiciona os indivíduos e que os enquadra num determinado contexto no qual operam limitadamente.. O todo mais do que a soma das partes, uma visão holística.. Se for assim, estamos de acordo! :)
Não Andreuccio!
ResponderEliminarEu tenho uma visão holística, ou não me fosse eu doutorar em sistemas complexos! (Temos de conversar!) Agora daí a negar uma ideia metafísica de livre arbítrio... Não segue!
O indivíduo particular é o político particular. A auto-selecção tende inexoravelmente para a falta de integridade. Daí serem impotentes.
Eu estava a ser muito poneizinho pah! Não era nenhuma reflexão de interesse mas uma machadada do meu ódio de estimação. :P
Ah.. Pronto, compreendi.
ResponderEliminarMas temos mesmo que falar então!!