domingo, 11 de abril de 2010

Merkel vai a Ancara

A chanceler alemã, Angela Merkel, esteve/está na Turquia, numa visita oficial ao país candidato à União Europeia que mais anos tem esperado por entrar para o clube dos 27. É conhecida em toda a parte a posição da Alemanha face à entrada da Turquia na União – é um facto. No entanto, o que não seria assim tão linear era que Angela Merkel o dissesse alto e bom som no primeiro dia de visita àquele país.


Diplomaticamente pouco delicado e estrategicamente pouco inteligente, a chefe do governo alemão poderia ter pautado a sua visita pela discrição que tão bem a caracteriza. Não fazendo um grande esforço para parecer muito simpática num país com tantos emigrantes no seu território, defendeu uma parceria privilegiada (isto parece estar na moda para contentar uns quantos) com Ankara, o que o país rejeita, querendo a plena adesão. Ao lado de Merkel está Sarkozy: para eles, uma Turquia pobre e com tantos muçulmanos não tem lugar na Europa.

A minha pergunta é se alguém disse que a Europa era para cristãos ricos… Porque eu nunca li essa definição de União Europeia, enquanto espaço de tolerância e abertura a todos – desde que cumpram os requisitos para a entrada.

O irónico da situação é que Merkel, depois de fechar as portas da Europa, deixando apenas uma intransponível fresta, vem pedir à Turquia que resolva pacífica e eficazmente os diferendos com o Chipre. Mas afinal por que haveríamos de o fazer depois do primeiro recado? – hão-de pensar os turcos…

E apesar de terem resolvido o diferendo bilateral sobre as escolas turcas na Alemanha, a questão do Irão veio à baila, mas Erdogan não abre mão da defesa acérrima do regime de Ahmadinejad. De facto, não tem porque não o fazer, mesmo sendo a Alemanha o seu parceiro privilegiado em termos comerciais…

3 comentários:

  1. Lolololololololol - adoroooooo estas notícias!

    Espaço de tolerância e abertura a todos significa espaço sem valores nem fundamentos André... O que é giro e confortável de dizer mas alguém tem de pagar a factura. N'est-ce pas? E não me parece que estejamos na melhor altura para se aumentarem as facturas.

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  2. A tolerância é um valor.. Não devemos limitar a UE a um grupo de países cristãos quando a própria cultura europeia também foi influenciada pelo próprio Islão; é uma questão de tolerância e liberdade. Que são valores e são fundamentos.

    Quanto à factura, é outro assunto: não estava a querer dizer que a entrada da Turquia devesse ser já para o ano ou algo do género - não pode é bloquear-se assim a sua adesão depois de décadas a alimentá-la, o que seria um crassíssimo erro geoestratégico, atendendo à posição da Turquia. E, como sabemos, esta afirmação da Alemanha terá mais de político do que de económico...

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  3. Tolerância e liberdade simpliciter são valores. Mas eu qualifiquei. Tolerância a tudo costuma demonstrar falta de valores que guiem a conduta. Se eu acredito em castidade, não posso tolerar um comportamento luxurioso num filho menor meu, por exemplo. Se eu acredito em direitos fundamentais, não posso tolerar uma cultura com práticas de iniciação forçadas que violentam o corpo de indivíduos, por exemplo. (A resposta prática ao "não tolerar" depende das circunstâncias. No primeiro exemplo se calhar consistiria em cortar a mesada e levar ao psicólogo, no segundo se se passa num país africano, o máximo que posso fazer é criar iniciativas de sensibilização).

    Mas para não fugir ao assunto: nós não podemos ser um espaço de completa e absoluta tolerância e defender os nossos valores ao mesmo tempo.

    Não faço uma apologia da intolerância... Apenas não aceito compromissos de valores. ;)

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