segunda-feira, 15 de março de 2010

Metodologia em RI


«As Relações Internacionais (RI) são, como comummente reconhecido, uma ciência recente e cujo processo de autonomização foi tudo menos linear e universalmente aceite. Na realidade, muitas foram as críticas à sua emancipação, uma vez que o seu carácter transdisciplinar levantava dúvidas sobre a necessidade de um corpo teórico independente para aquele que considerava o seu objecto e que era reclamado, parcialmente, por várias outras áreas científicas. Além disso, a constante interacção com outras disciplinas dificultava o reconhecimento daquela como área autónoma.
As questões metodológicas em Relações Internacionais têm sido um dos centros das discussões teóricas no âmbito desta ciência, muitas vezes mais do que as questões substantivas. Como expõe Victor Marques dos Santos,

“Em RI a noção de método, ou o termo metodologia transcendem, com alguma frequência, o carácter substantivo d[e certas] questões (…) ou mesmo o plano dos debates entre as várias escolas e perspectivas teóricas, para se concentrarem sobre as problemáticas epistemológicas da produção de conhecimentos, ou seja, para debaterem as questões inerentes à génese constitutiva da própria disciplina.” (2007: 93)

Efectivamente, se as Relações Internacionais, enquanto disciplina emergente, se definiam pelo seu objecto material, o seu objecto formal apresentava algumas inconsistências, como denota Maltez (2002a apud Santos, 2007: 96), nomeadamente a falta de unidade quanto ao método e à lógica. Falamos, então, de questões epistemológicas, dos fundamentos básicos de qualquer corpo científico, e que têm vindo a ser muito analisadas pelos teóricos internacionalistas, como referimos acima. Contudo, para vários autores, fundamental para a independência de uma disciplina é a problemática do objecto e não a do método, apesar de intimamente relacionadas. (Santos, 2007: 96)

Não obstante, a discussão metodológica é de grande importância, atendendo ao facto que é desse campo que provêm as maiores acusações de carências e faltas de rigor contra as Relações Internacionais. Isto porque tem que haver, em qualquer ciência, a adequação entre os métodos e a realidade e algumas abordagens importadas de outras áreas, como a Ciência Política, comprometem essa adequação. (Ibidem) A transdisciplinaridade é característica da abordagem internacionalista e, mais do que uma adição pura de visões distintas, consegue produzir um saber autónomo que transcende as respectivas áreas. (Idem: 99)»

(Excerto de trabalho pessoal sobre metodologias em RI)

6 comentários:

  1. Andreuccio

    Muito bem! Mas que seca! Este discurso ouve-se em todas as ciências sociais, depois em todos os paradigmas, depois em todas as disciplinas. E todos se acham peculiares.

    (Nesse excerto do Vítor Marques ele consegue fazer aquilo que eu odeio na produção em língua portuguesa: dizer uma trivialidade em linguagem pseudo-elaborada. Tu dizes coisas muito menos triviais em linguagem bem mais simples e exacta...)

    Continuação de bom trabalho.

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  2. Obrigado, Diogo.

    Sim, ele tem um estilo assim meio barroco, mas acabava por completar a ideia.. Isto faz parte de uma introdução de um trabalho extenso sobre este tema, daí que seja uma mera apresentação da temáticas. Se todas dizem, as RI têm que dizer para terem o mesmo carácter científico que muitos não lhe reconhecem..

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  3. E diz lá, qual o interesse em que TODOS lho reconheçam? ;-)

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  4. Nós, os teóricos, gostamos de ser reconhecidos por TODOS! :P

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  5. Então devíeis arranjar um nome em -ia ou -ica. Senão não soa a ciência. Internacionalogia, por exemplo...

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