Poder-se-á dizer que o Iraque voltou à normalidade, como li em alguns artigos por estes dias? Depois de umas eleições que só mataram cerca de 40 pessoas, podemos falar em normalidade para aquelas bandas? A mim parece-me muito forçado. Um país que foi invadido e que viveu, até há bem pouco tempo (se é que ainda não continua) dentro de uma guerra durante 7 anos não pode falar de normalidade após meia dúzia de semanas ou porque tiveram lugar umas eleições com os traços daquelas que acontecem por todo o lado no Ocidente.
Ora, esta era a principal ideia que gostaria de frisar aqui hoje. Em segundo lugar, queria dizer que, desde que me interesso por esta região do mundo, considero desnecessária a invasão do Iraque em 2003. Foi uma abordagem unilateral e coerciva completamente descabida. É que tão descabida que nem em temos de interesses política externa americana ela se consegue conceber. Ao contrário do Afeganistão, cuja situação é completamente distinta, apesar de ambos os conflitos se enquadrarem na "luta ao terrorismo", o Iraque não constituía qualquer tipo de ameça à segurança social. Não tinha armas de destruição maciça. E se tivesse? Alguém já atacou a Coreia do Norte? O Irão?
Decorreram, no Iraque, as tais eleições de que falava em cima. Foram as segundas desde a invasão e com melhores resultados em termos democráticos do que as anteriores, onde o boicote dos sunitas pôs todo o sufrágio em causa. Desta vez, nada disso aconteceu. Morreram algumas dezenas de pessoas e outras dezenas ficaram feridas, mas, afinal, é aquilo a que nos habituámos a ver no Médio Oriente, certo? Quem dá atenção a atentados suicidas no Paquistão? Quem passa do título de uma notícia sobre atentados no Iraque? Ninguém. Já quase não há mensagens por detrás destas acções, que se vulgarizaram e que, como tudo que se vulgariza, perde valor enquanto acto isolado que capta a atenção do outro.
Não perco muito tempo com os resultado per se. Não interessam os resultados quando todo o processo foi conduzido à maneira Ocidental, formas cujos iranianos foram praticamente obrigados a aceitar. Até que ponto é legítima esta vontade dos americanos e muitos europeus em exportar estes padrões. De facto, Saddam não era um inocente líder com as mãos limpas de sangue da sua população que violentamente governava. Agora, sejamos honestos: quantos líderes têm sangue nas mãos e não são invadidos? Quantos são aqueles cujas populações denunciam e clamam por ajuda do exterior que nunca chega? Por que é que isto acontece? As Relações Internacionais reflectem sobre estas questões e estudos aprofundados nesta área da intervenção militar e da democratização do Médio Oriente e da Ásia Central seriam bem-vindos.
Mas precisaremos mesmo deles para continuar a hipocrisia que envolve toda esta questão do Iraque a ponto de dizer que a normalidade chegou ao Iraque?
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