Como escrevi num artigo sobre o Irão publicado no Jornal Defesa e Relações Internacionais, os Estados Unidos têm vindo a desenvolver esforços no sentido de mover todo o Golfo Pérsico na adopção de uma posição crítica face ao desenvolvimento do programa nuclear iraniano, violador de vários artigos do Tratado de Não Proliferação que este também assinou, mas que, sucessivamente, ignora. O périplo começou há umas semanas com Hillary Clinton e um corpo diplomático que visitou uns quantos países à volta do Golfo. Mais recentemente, Robert Gates, Secretário da Defesa, visitou a região numa viagem oficial que englobou não só o Afeganistão, mas também a Arábia Saudita, continuando a tarefa iniciada pela sua homóloga da pasta da Secretaria de Estado, Clinton.
Os Sauditas, mais uma vez, mostraram-se receosos com a atitude iraniana e apelaram à comunidade internacional a aposta nas sanções para demoverem o regime de Teerão de levar a cabo a continuação do seu programa nuclear cujos fins têm sido alvo de grande controvérsia. Para acalmar os sauditas e assegurar que continuam do lado dos americanos nesta questão, Gates deixou bem claro que a proposta de ajuda para a defesa anti-míssil na região que rodeia o Irão continua de pé e que os Estados Unidos não vão furtar-se a ajudar aqueles que se sentem ameaçados por Ahmadinejad e o seu programa nuclear.
Por outro lado, foi também notícia um sinal claro e importante das sanções que os Estados Unidos e a Europa têm vindo a levar a cabo contra Teerão: as duas grandes multinacionais retiraram do país. A Royal Dutch Shell e a Ingersoll-Rand anunciaram a retirada ou a diminuição da sua actividade, na sequência das sanções anunciadas. Como também expliquei no mesmo artigo que citei acima, o Irão, apesar da sua grande capacidade em termos de exportação petrolífera, não consegue suprir as necessidades do país em termos de gasolina para o consumo dos seus habitantes, importando esse petróleo refinado de vários outros países, nomeadamente dos Estados Unidos e da Shell. Pragmaticamente, alguns serão os efeitos das sanções adoptadas contra o Irão, apesar do seu Presidente querer sempre mostrar ao mundo que aquelas não têm os resultados desejados. Agora parece que é mais a doer. E a partir do momento em que a China aprove o reforço das sanções no Conselho de Segurança, ou pelo menos que não o vete, essas retaliações contra o regime podem ter efeitos mais graves na economia iraniana.
Várias outras empresas estão a seguir o exemplo, também resultado de grupos de lobby americanos que pressionam nesse sentido. Até onde poderão essas medidas prejudicar o Irão, é ainda cedo para avaliar. Contudo, a unidade que Obama procurou na comunidade internacional para demover o Irão dos seus intentos nucleares parece, lenta mas progressivamente, concretizar-se.
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