terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

China - que brilho? (VII)

Em jeito de conclusão a esta viagem de vários dias pela China, chamo a atenção para dois artigos do Jornal Público On-line, que poderão ser lidos aqui e aqui.

O primeiro é relativo a uma questão já aflorada neste blogue e que se prende com o relacionamento com Taiwan. Em entrevista, um investigador e politólogo de Taipé desenvolve uma perspectiva muito curiosa relativamente à posição do seu país num meio caminho entre a China e os EUA. De facto, visto por esse prisma, aquela pequena ilha tem a oportunidade de arpoveitar o balanço do desenvolvimento chinês para promover o seu bem-estar económico, mas tem que ter cuidado com as pretensões de Pequim para com o seu território; por outro lado, aliar-se mais aos EUA, que a usam como peão naquela região do mundo, traz vantagens principalmente em termos de defesa e garante da sua autonomia. Dizia Yen:

"Os EUA fornecem armas para garantir que Taiwan não vai para a mesa de negociações com a China numa posição de fraqueza. Isso é bom. Está em marcha um processo de reconciliação, e se Taiwan não tiver capacidade militar pode ficar sob domínio da China muito facilmente. Os EUA também querem garantir que Taiwan não entrará na órbita chinesa, mas que continuará a ser um peão de Washington, que o poderá usar como leverage contra a China. Ninguém sai a perder.
(...)
Não creio que Taiwan possa ser um país neutral, porque não é um Estado na tradição de uma nação soberana – mas pode manter uma posição neutral, não se aproximando tanto da América como no passado e mantendo a sua independência face à China. É certo que a tendência é para que Taiwan se integre mais no mercado chinês e beneficie do seu crescimento económico. Acho que Taiwan vai tentar manter-se no centro, usando o trunfo chinês contra os EUA e o trunfo americano contra a China. Reforça deste modo a capacidade de sobrevivência face às duas superpotências. Se não souber jogar bem, arrisca-se a ofender uma das partes, o que não será bom para os interesses taiwaneses."


Complexa e com uma lógica geoestratégica fundamental, a questão de Taiwan promete continuar a dar que pensar. E, nesse seguimento, temos ainda o segundo artigo do Público, que reflecte sobre a inflexão da posição chinesa no mundo: Taiwan, Armas, Google, Yuan, Comércio, Economia, Direitos Humanos, EUA e Tibete marcam a agenda internacional e as respostas a estas "crises" constituem sinais claros que a China tem noção do seu peso no mundo e que um certo fervor nacionalista pode estar a consolidar-se no Reino do Meio, exigindo o reconhecimento da sua posição no xadrez internacional. Também esta evolução das atitudes e comportamentos da China merecem a nossa atenção e um acompanhamento sistemático.

E assim termino a minha incursão pela Ásia Oriental. Quis trazer aqui questões, mais do que respostas; reflexões, mais do que soluções. Atendendo à complexidade do próprio país e do seu relacionamento com o mundo, já para não falar das previsões e projecções para o futuro, é importante que conheçamos o maior número de indicadores e factos para podermos moldar alguma posição face à China e à sua interacção com a comunidade internacional, no sendido de compreendermos mais uma das peças que é este gigante puzzle do mundo actual.

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