sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O percurso até à paz? (II)

Não quer isto, contudo, dizer que Israel esteja isento de culpas. Como muitas vezes manifestei no blogue, este país tem sido um grande entrave. Compreendem-se naturalmente as suas reticências: integridade territorial, opinião pública, oposição religiosa, ódios históricos, segurança do país, etc. Para piorar a situação, o apoio inabalável dos Estados Unidos sempre deu a Israel motivos para não temer qualquer inimigo. Washington protegia sempre os golpes – especialmente com Bush. Na era Obama e Clinton, a situação deixou de ser tão linear assim. Na realidade, várias vezes foi condenado o comportamento dos israelitas. Não podemos esquecer-nos daquele episódio diplomático em que Netanyahu mandou continuar a construção de colonatos ainda Mitchell não estava longe, numa clara falta de delicadeza e de tacto diplomáticos. Os americanos ficaram irados e Netanyahu pediu desculpa.

Neste longo processo, como dizia, vários acontecimentos tiveram lugar e poderiam ter deitado tudo a perder. A 15 de Agosto, o Ministro do Interior israelita, uma ultra-conservador, pretendia deportar 400 crianças filhas de trabalhadores imigrantes. Nem com o pedido da mulher do Primeiro-Ministro, ele condescendeu. Um outro Ministro do gabinete considerou a decisão deplorável e afirmou mesmo não ser aquele o Estado judaico que ele conhecia. De facto, acaba por ser uma ironia que um povo que tenha sido artificialmente colocado num território já ocupado, que tenha enfrentado o desagrado dos vizinhos e que se tenha deslocado em massa para lá, acabe por expulsar do país alguns imigrantes com medo de arruinar o “projecto sionista”. Rapidamente esqueceram a sua história.

A 29 de Agosto, o líder espiritual do partido religioso Shas, o rabi Ovadia Yosef, opôs-se frontalmente a todo o processo de negociação entre as duas partes, pedindo publicamente o assassínio do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. Este detestável homem apelava ao uso de bombas contra os palestinianos e à sua eliminação.

Do lado contrário, vinham também ataques: a 31 de Agosto, quatro israelitas morreram num ataque levado a cabo por palestinianos e colonos perto de Hebron, na Cisjordânia, reivindicado pelo Hamas, contra as negociações. 


(Continua)

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