sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Era uma vez no Brasil... III

Toda a campanha eleitoral de Dilma Roussef se baseou, segundo a minha perspectiva, num relativo paradoxo: ora era apoiada por Lula da Silva, como sua protegida e sucessora, aquela que seria capaz de levar a “Missão Lula” avante; ora se afirmava uma mulher independente que conseguiria pensar por si e não ser uma “marionete”. É claro que ambas as situações são compatíveis e podem justapor-se; no entanto, a força da campanha de Roussef pareceu basear-se mais no apoio incondicional do Presidente do que no resto. É, aliás, compreensível. O número de votos que a candidata terá ganho com a campanha activa que o Presidente levou a cabo ao seu lado é, para mim, incalculável. Atrevo-me mesmo a dizer, sem pôr em causa a competência governativa da senhora, que um Lula mais na sombra e sem uma posição tão efusiva poria em causa os resultados destas eleições. Não seriam, certamente, os mesmos ou não fossem os 75% de aprovação que Lula tem junto da sua população. Não foi sempre assim: no início da campanha, ainda em Julho, duvidava-se da capacidade de influência desta popularidade. Para mim, ela desapareceu com o tempo.

Dizia um artigo do NYT do dia 25 de Julho:

“The attitude is, ‘If Lula says she is the right person, she is the right person,’ ” said Riordan Roett, the director of the Latin American program at Johns Hopkins University. “I can’t think of any other case in Latin America in the recent past where this has been the case, where a twice-elected president was simply saying, ‘Trust me.’ ”

“We support Lula’s candidate,” said Severin João da Silva, a 57-year-old farmer in Caetés. “Lula was the best president Brazil has ever had, and after he became president everything got better.”

Naturalmente, a campanha de José Serra teria de ser diferente, dirigir-se a outro tipo de eleitorado, em zonas mais prósperas, nomeadamente no sudeste do país. Serão eles suficientes? Outro ponto forte da campanha de Serra era criticar a falta de currículo político de governação da sua grande opositora trabalhista (Lula gabou por várias vezes as capacidades de liderança da sua escolhida e fê-la acompanhar cada vez mais frequentemente em eventos públicos ao seu lado.). Alguns opositores tentaram demover o apoio de Lula, ameaçando-o de o processar por usar o seu poder presidencial para fazer campanha por Roussef. Outra estratégia de Serra passou ainda por tentar ligar o Partido Trabalhista às FARC e, inclusivamente, ao tráfico de droga – conseguiu, contudo, apenas ser chamado de “Serra Palin” por um colunista brasileiro.
 
Em Agosto, já se falava em vitória de Dilma Roussef à primeira volta. Com os tempos de antena na televisão e no rádio, a vantagem face a Serra continuou a aumentar, uma vez que Dilma conseguia um maior crescimento na sua popularidade através destes meios muito eficazes junto dos que têm pouco acesso à informação – uma notícia dizia que muitos brasileiros até então não sabiam que ela era a “candidata do presidente”. No entanto, uma notícia do Público dava igualmente conta que a candidata do PT também era a preferida entre os eleitores com mais rendimentos. As notícias do aumento da diferença entre os dois candidatos foram-se sucedendo ao longo do mês de Agosto e nos inícios de Setembro.

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