sábado, 3 de julho de 2010

A Comunidade Africana do Leste

Foi ontem notícia no NYT a formação de um mercado comum por cinco países africanos. Mais especificamente, do Leste de África. Este é mais um passo na consolidação e desenvolvimento da Comundiade Africana do Leste que, tal como refere a notícia, deu este passo na junção dos seus mercados, mas aponta já para 2012 a união monetária e, para 2015, a existência de uma moeda única. Os líderes dos cinco países membros da CAL - Uganda, Quénia, Tanzânia, Burundi e Ruanda - prevêem também uma aproximação política, apesar de o seu objectivo imediato ser o desenvolvimento económico da região.

Esta iniciativa deixa-me muito satisfeito, uma vez que a integração do território será, certamente, muito positiva para todos os participantes. A partilha de uma organização, de responsabilidades, de objectivos e outros valores poderá contribuir para o seu desenvolvimento e crescimento enquanto países condenados a um continente que ainda hoje enfrenta uma conjuntura difícil e uma mentalidade que dificulta o seu pleno desenvolvimento e a felicidade dos seus cidadãos. A concretização de uma União da África do Leste está, assim, mais próxima.

8 comentários:

  1. Andreuccio,

    Para já ainda não há nenhuma organização partilhada, pois não? E o que se vai passar mesmo em 2012? Não conheço as características da região, mas a minha intuição económica diz-me que uma moeda única deve ser bem melhor ideia lá do que cá.

    Um reparo: não estás a ser um pouco etnocêntrico? "Uma mentalidade que dificulta o seu pleno desenvolvimento e a felicidade dos seus cidadãos"? Que mentalidade? Que desenvolvimento? Que felicidade?

    Ah e desculpa a arrogância mas a ideia não está próxima! A ideia já existe! A sua execução é que está próxima. =P Eheheh

    Abraço

    P.S. vê-se com dois olhinhos. Esqueceste-te de um "e". =)

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  2. Ora bem, pelo que li na notícia, penso que se não há ainda uma organização partilhada, estará para haver, uma vez que o seu objectivo é efectivamente esse da moeda única e só conseguem chegar lá progressivamente através de um processo de integração das suas economias. Eu também penso que será uma boa solução para lá, mas deixo essas reflexões a quem de direito.. ;)

    Etnocêntrico? Sim, de facto há algum etnocentrismo no meu comentário, mas como evitá-lo? É que diga-se o que se disser, os povos europeus parecem mais satisfeitos com a sua vida do que os africanos.. Quero dizer em termos de acesso a comodidades e de qualidade de vida... Eu sei que há essas questões todas, mas não será esse o objectivo último de qualquer organização que se dedica à vida das pessoas? Ou devermos deixá-los seguir o seu caminho da corrupção e de todos os vícios (etnocêntrico) que tiram ao grosso da população alguma dignidade? (Sim, porque andar quilómetros para ir buscar água, ver crianças a morrer à fome e adultos também é falta de dignidade..) O que te parece? Não terão eles direito a possuir uma certa estabilidade e a satisfação das suas necessidades mais elementares? E caminhar nesse sentido não é desenvolver?

    Sim, obrigado pelos reparos! Já estão ambos corrigidos! Danke! ;)

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  3. Ora aqui está um bom tema para a Tânia comentar, ela que esteve no terreno bastante tempo. =)

    *Tânia chamada à recepção*

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  4. Caríssimos, que estranho é escrever sobre África com acentos. Tenho a sensação que isto vai correr mal. Nao podia fugir, contudo, aos apelos tão sedutores para vir debater sobre ideias etnocêntricas, principalmente num balcão de recepção. Claro está, mais atraente não podia ser quando não há, para mim, coisa mais enjoativa do que um centro, ainda para mais europeu.

    A satisfação dos povos. Tema difícil, ou talvez nem tanto. Eu arriscaria dizer (com a minha intuição africana)que a maior parte dos africanos sente um enraizamento bem profundo à terra que os viu nascer. Sente um orgulho, que hoje não é tão nacionalista, mas sim mais abrangente em espaço e tempo.
    Existem numerosos exemplos de pessoas com quem falei no Quénia, dos mais pobres aos mais ricos, exprimindo claramente o quão gostam de viver em Nairobi, no país, em África.
    A invasão de mercados e a mentalidade a eles associada trouxe, até para África, a ideia de que o que é desenvolvido corresponde àquilo que se vê nos países, assim, ditos, desenvolvidos. E é frustrante, para mim, ouvir e ver africanos sedentos de tecnologias de informação, automóveis e telemóveis 'topo de gama' achando que isso os torna, outra vez, mais desenvolvidos. Longe de estar aqui a limitar os benefícios da tecnologia, o meu ponto é que a mentalidade que com ela veio associada estragou o que lá se passava (não será aqui preciso elaborar penosamente que a tecnologia se produz e traduz em técnicas e práticas adoptadas por seres humanos, e que no fundo não estaremos a falar só de tecnologia; colonialismo e outros 'ismos' é tudo o seria preciso analisar até no mínimo 50 anos atrás para perceber o que acontece hoje em África).
    A verdade é que até mesmo para aqueles rebentos da economia de mercado, África continua a ser o alvo das suas motivações, a paixão que recusam trair nas suas vidas, esforçando-se, naquela lógica, por contribuir para o seu desenvolvimento e prosperidade.
    Por isso, eu conclui que felicidade em África é coisa que não falta. Também eu passei os melhores dias da minha vida em África.

    É verdade que lá muita coisa funciona mal. Os rendimentos são mal distribuídos, sem dúvida que há corrupção, e há, pelo menos no Quénia, um racismozinho de tribos intermitente, pronto a explodir quando dá jeito como se viu há 3 anos atrás. Os problemas de saúde e pobreza que existem na Europa são exponenciados em África. Mas sabemos todos , diria eu, que não é por falta de recursos e riqueza que África sofre, mas sim pela distribuição desigual, desajustada e desinteressada de quem o pode distribuir. Porque em muitos locais em África, só muito poucos podem distribuir riqueza. Este é um dos legados do colonialismo que se associa ao seu filho neo-colonialismo. Tal pai, tal filho, a família ocupa-se dos seus interesses e de assegurar o seu futuro. E quem é a mãe do colonialismo? a Europa. E assim a avózinha foi espalhando rebentos e canalha pelo mundo fora, sobrinhos, e tios que nunca mais morrem.

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  5. Deixando o conto de fadas de lado, a questão é que a maior parte da organização política e económica em África é, de facto, etnocentrista. Neste estado de coisas, África depende do resto do mundo e não é esta visão da integração que me parece que vá mudar as coisas. Insisto na ideia de que é necessário ir à origem dos problemas para saber como erradicá-los. E desta forma, uma integração económica entre estes países não vai chegar para tornar as sociedades mais democráticas. Para além dos governos terem que responder a exigências internacionais, a riqueza não será distribuída de quem tem mais para quem tem menos. Quanto muito será distribuirá entre quem tem menos, mas deixará o outro grupo isolado e intocável.

    A grande força de África reside no seu povo e na mobilização a que muitos estão habituados. Após as eleições fraudulentas no Quénia em 2007, a batalha sangrenta que se deu nas ruas foi mais que compreensível. Era aliás a única forma de fazer com que um protesto das classes mais baixas tivesse consequências na política num país como este. E teve. Após o conflito foi proposta uma nova constituição cuja 1ª versão foi publicada enquanto lá estava e que vai ser levada a referendo em Agosto deste ano. Esta constituição é resultado directo desse conflito já que procura, finalmente, retirar poderes ao Presidente que antes estava acima da lei.
    Existem muitas iniciativas sociais em África por parte de locais também, no entanto, achando que não é a integração económica que irá trazer grandes benefícios, e tendo em conta que muitos africanos estão seguros do seu caminho ao juntarem-se a grupos poderosos, a minha visão é um bocado pessimista. A minha esperança é que abram bem os olhos e se orgulhem todos da África que sempre existiu e não da África que deixam explorar (ou que não têm hipótese de deixar de).

    Para finalizar deixo aqui o testemunho que parece não fazer parte da consciência geral sobre África. Há muita, mas muita gente a viver bem em África. Há imensas cidades africanas como uma dita 'classe média' que ocupa uma fatia enorme da população dessas cidades como é o caso de Nairobi e Lagos. Fora desses meios o estilo de vida é diferente, mas as pessoas não carecem de comida, casa e educação local (básica). Para um europeu com estrelas à volta da cabeça e trufas debaixo do braço, certamente aquilo a que estou a chamar de classe média aqui, seria classe bem baixa para ele. Mas falar de qualidade de vida nesses termos é, de facto, bem etnocentrista. A meu ver, quem vive numa cabana de colmo não vive menos desenvolvidamente (?) do que quem vive entre assoalhadas.
    Podemos por a questão do isolamento de muitos povos, sem acesso a outro tipo de informação que não a deles. Isso fará deles menos inteligentes? Claro que não. Assumir tal coisa é quase um homicídio às possibilidades da Humanidade. Fazem deles pessoas com uma mentalidade retardada? Certamente não, porque nós cá também não sabemos nada sobre eles e até podíamos saber mais facilmente.
    E sobre a mentalidade corrompida? acho que já escrevi que chegue sobre isso.

    Beijinhos e abraços aos dois :)
    Tania

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  6. Muito obrigado, Tânia!
    Gostei imenso de ler essa visão e essa perspectiva de quem conhece a realidade do terreno.
    Destaco só duas ou três coisas: a primeira é a eterna questão da distribuição da riqueza num continente tão rico. É por esse motivo que falo da imprtância de uma verdadeira democracia que permita o pleno desenvolvimento de todos os africanos - e entenda-se desenvolvimento de forma lata, não necessariamente tecnológico/europeu.
    Em segundo lugar, o meu espanto de receber essa notícia do sentimento "pan-africano". Não fazia ideia que existia, principalmente num continente tão retalhado e dividido étnica e geograficamente.
    Três: lamento se essa integração económica não funcionar para dar um suporte material e outras condições à alegria que os africanos já têm.

    Finalmente, concordo plenamente na necessidade de resolver os problemas mais profundos dessa sociedade. Mas quão fundo teremos que ir e quão difícil será curar um continente massacrado, violado e com esses rebentos de que falas?

    Gostei!
    Beijinho!

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  7. Como tinha dito antes, a minha visão é bastante pessimista, mas se fizer um esforço para tentar mesmo assim atingir alguma solução possível eu diria que tudo passará pela tomada de consciência de muitos africanos de que o que vem do ocidente não terá que ser sempre melhor. As trocas interculturais podem ser positivas se forem justas, isto é, se forem um fim e não um meio para os interesses de uma só parte.
    A sensibilidade e o gosto de ser africano persiste na mente e na vida de muita gente. A forma como dirigem esse gosto é que é diferente pela lógica anterior. Não são pessoas apáticas porque também não o podem ser perante as grandes dificuldades e desigualdades. Por isso, eu acho que o futuro de África reside na organização das pessoas que pode ir da área da saúde à das artes. Tendo em conta que a organização de pessoas está muitas vezes dependente de capitais, e que esses são retidos por um grupo minoritário usando a força física se necessária contra quem se oponha, então o problema é grave. Parece que eleições 100% democráticas é um primeiro passo para dar voz a uma consciência maioritária e acabar com os tiranos. Mas e se os grupos económicos fazem pressão sobre os novos governos? A não ser que esses grupos se virem para os problemas das populações e não para os problemas da conquista de mais poder e lucro, então a história mantem-se. No entanto, pelo que eu aprendi na escola e em tudo aquilo que li (lanço o desafio para sugestões a quem conheça algum autor ou obra que diga o contrário) o lucro é o objectivo primordial do capitalismo. Até pode ser uma transformação valorativa da sociedade (a competitividade, a liderança, o risco, etc) através da qual se maximiza o lucro. Por isso, à frente de um ser humano existe um balcão no qual se inscreve: 'Olá, eu estou à venda, mas também tenho poder de compra'. É bonito.
    Todos passamos por isso, mas em África o impacto é ainda maior.

    Beijinhos

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  8. Um problema bicudo, na realidade... Há tantos obstáculos à plena realização dos africanos... Mas todo o mundo ficaria a ganhar se o continente se desenvolvesse, mesmo segundo os seus padrões, e conseguisse diminuir as desigualdades...
    Pode ser que organizações como esta promovam esse desenvolvimento e unam os africanos num objectivo comum.

    Obrigado pelos comentários!

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