terça-feira, 20 de abril de 2010

A inversão turca (I)

A Turquia fascina-me. Fascina-me, porque é um daqueles raros casos que representam uma ponte entre dois mundos, entre duas civilizações, enre duas mundivisões. Viram-se para Oriente e têm os árabes e o Islão. Viram-se para Ocidente e dão logo de caras com os vizinhos europeus, cristãos, “ocidentais” na acepção cultural que o termo carrega.
Durante toda a História funcionou como essa mesma ponte. Como se a sua localização fosse (e certamente o será) um privilégio de poder agradar a gregos e troianos, que é como quem diz dar-se bem com Deus e com o Diabo.
A adesão à União Europeia é a chave para se aproximar mais do lado ocidental; o afastamento da UE dá-lhe maior liberdade para exercer uma maior influência enquanto potência regional no Médio Oriente. É por isso mesmo que os americanos davam tudo para que Ancara se sentasse em Bruxelas de vez: teria debaixo de olho um ponto estratégico na zona do globo que mais preocupa Washington.

Mas não é isso que tem acontecido. Os sucessivos adiamentos da sua entrada e uma certa desilusão com a política europeia têm originado uma inflexão de, digamos, 180º da sua posição. Opõem-se duramente às sanções contra o Irão, estão a ganhar um ódio mortal aos israelitas, aproximaram-se da América de Obama, mas não tanto como o esperado, defendem o líder do Sudão das acusações de genocídio, continuam firmes na questão curda, muito duros de roer com os cipriotas,…

Um excerto de um texto muito interessante sobre esta inversão:

“Some commentators conclude that Turkey is turning away from the west and towards the east. Ankara’s priority, they say, is no longer European Union accession and working alongside Nato allies; rather it is to pursue a “neo-Ottoman” foreign policy designed to restore Turkey’s regional predominance, give it “soft power” among Muslim nations and turn it into an independent player in a multipolar world (…).

This perceived shift in Turkish foreign policy worries many Europeans and Americans, for two reasons. First, Turkey’s growing ties with regimes or movements shunned by the west – those of Syria, Iran, Sudan, as well as Hamas – could undermine western foreign-policy objectives. Turkey may help such regimes to overcome their sense of international isolation and shield them from western pressure. Turkey, in other words, may no longer be a reliable ally of the west.

Second, some observers suspect that Turkey’s stronger ties with the middle east and the former Soviet Union are the outward manifestation of worrisome trends within Turkey. The Kemalist opposition in Ankara accuses the ruling Adalet ve Kalkinma Partisi (Justice & Development Party / AKP) of pursuing a creeping Islamisation of Turkish politics and society; more liberal types detect a rollback of democratic freedoms and civil rights. Many critics of the AKP say the party no longer aspires to modernise the country and therefore prefers stronger ties with autocratic and Islamist regimes.”

Amanhã deixarei outros excertos do artigo com uma interessante posição dos autores relativamente a este comportamento turco. A não perder!

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