segunda-feira, 22 de março de 2010

Ao ponto a que chegou a política italiana

Quando outro dia um professor me dizia que contava com a reeleição de Berlusconi, eu franzi o sobrolho. Como seria possível, depois de tantos escândalos sexuais, políticos, judiciais, etc. um primeiro-ministro conseguir ser reeleito?! Uma esquerda desunida é uma das razões, uma direita muito forte e economicamente muito presente será outra. Mas não podemos ignorar uma terceira – a natureza dos italianos.

Não sou muito apologista deste tipo de relações de causalidade, mas é a única forma de conseguir explicar este apoio a Berlusconi. Quando eu pensava que o autor do ataque da estatueta contra o Primeiro-Ministro italiano ia ser tratado como um herói nacional, eis que quase foi crucificado por magoar o pai da nação.

E o mais ridículo de toda esta história é narrado numa notícia do Público, da qual retirei alguns excertos aqui apresentados:

«Há mensagens de histeria e muitas lágrimas e em todas se implora ao primeiro-ministro italiano para perseverar depois do ataque que sofreu o ano passado. Estão reunidas num livro que acaba de chegar às livrarias: como outros livros sobre a vida de Silvio Berlusconi, é lançado em plena campanha eleitoral, desta feita para as eleições regionais de dia 28 de Março.

O livro, da editora Mondadori, de que Berlusconi é proprietário reúne 50 mil mensagens de apoio sob o título “O amor vence sempre à inveja e ao ódio”, uma frase próxima de várias que o Cavaliere disse em Dezembro, quando, após meses de escândalos judiciais e polémicas sobre a sua vida privada, foi atingido na cabeça com uma estátua durante um comício.

Há mensagens de toda a Itália, mas também do Vietname. Algumas são de desafio: “Mostra-lhes que és indestrutível”. Outras são desesperadas: “Imploramos-te, não nos abandones e se puderes faz um clone de ti”. Também há descrições de histeria: “Ao ver-te coberto de sangue, a minha mulher puxou o cabelo e soluçou enquanto gritava ‘Nossa Senhora, salva o Silvio”, escreveu Carlo F. “Primeiro-ministro, estamos à beira do precipício, só tu nos podes salvar e garantir um futuro aos nossos netos. Vamos rezar todos os dias”, prometeu outro italiano.

Muitos escreveram mensagens onde comparam Berlusconi a um membro das suas famílias, como ele sempre quis que os italianos o vissem. “Sofro como se tivesse sido atingido o meu pai.”»

Sem comentários…

6 comentários:

  1. André natureza dos italianos? As pessoas em geral apreciam um líder, alguém em primeira mão! O Berlusconi é isso tudo! Se queres que te diga, se eu adoptasse um código ético perfeccionista diria que era moralmente certo reelegê-lo.

    De qualquer das formas, e esquecendo a apropriação das suas características ao cargo que tem, ele é muitíssimo superior enquanto indivíduo a quase todos os políticos que conheço.

    Abraço

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  2. Porque é que o consideras "muitíssimo superior enquanto indivíduo a quase todos os políticos"?

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  3. Lol Desculpa André. "Muitíssimo superior" é ridículo. Leia-se "não é pior". =$ =P

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  4. André,

    Itália é um país dividido. Há os que amam Il cavaliere e os que o odeiam. Evidentemente que a esquerda tem responsabilidades - não é uma alternativa séria, não tem projectos sérios e não tem um líder. Porque aqui em Itália a figura do líder é importantíssima. Veja-se o caso de Bossi, da Lega Nord. Tal como Berlusconi, anda nas lides políticas há muito tempo.
    Itália é um país muito peculiar: tem das taxas de participação mais altas da Europa; por outro lado, se olharmos para a história dos partidos, nos últimos vinte anos não houve estabilidade a nível partidário - mudança de nome, símbolo, líder, várias coligações falhadas, etc. E aqui o financiamento partidário é todo público: não há financiamento privado. Ou seja, todos os partidos - até os mais pequeninos - vivem (bem) dos apoios estatais, que são imensos.
    Em resumo, grande parte da oposiçao vive bem como está.
    Berlusconi conhece bem os italianos e tem o mesmo discurso há muitos anos. Até quando aguentará, não sei.

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  5. Sim, Pedro.. As questões que levantaste parecem-me apropriadas: a imagem de um líder e uma esquerda desfragmentada, dois pontos centrais do sucesso de Berlusconi.. Obrigado pela achega..

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