terça-feira, 16 de março de 2010

Um bocadinho de Afeganistão... (I)

(Para reflectir, alguns excertos de um trabalho que fiz sobre a Guerra do Afeganistão.)

«Com Gorbatchev e os Acordos de Genebra de 1988, a guerra termina no Afeganistão. Não obstante, o governo de Najibullah, pró-URSS, acaba por cair apenas em 1992, quando se esgotam os recursos recebidos da recém-destruída União Soviética. (Marsden, 2002: 57) Só então é que o apoio aos mujahidin começa a levantar dúvidas nos EUA e alguns começam a sugerir o cancelamento das ajudas por perceberem que as facções eram “compostas por fundamentalistas islâmicos cujos objectivos para o Afeganistão estão nos antípodas dos nossos” (Lohbeck, 1993 apud Pinto, 2008: 236), como afirmava o Presidente da CIA na Câmara dos Representantes. Contudo, essa redução chegam apenas com Bush, em 1990 – primeiro, a redução em 60% do apoio e só no ano seguinte com a suspensão do envio de armamento. O resultado estava à vista de todos: um Afeganistão cheio de extremistas muçulmanos bem treinados, que na década de 90 levarão a cabo vários atentados contra os EUA, nomeadamente no World Trade Center, sendo que só então os americanos começam a aperceber-se realmente da ameaça afegã. (Pinto, 2008: 237) A sua obsessão pelo containment soviético cegou-os para o que era mais visível, numa atitude irreflectida e com consequências graves.

O caos estava, assim, lançado: regressam alguns refugiados, mas não todos; é grande o descontentamento com a representação étnica no governo interino (sem apoio dos pachtun), a jihad continua com força – desta vez, entre grupos étnicos resultantes de uma Aliança dos Sete Partidos formada em 1985 para comandar um governo interino no final da invasão soviética –, a instabilidade era crescente. Em suma, “O governo norte-americano, nos seus esforços de minar a União Soviética, tinha criado um governo no Afeganistão que tinha as suas raízes num pequeno grupo de radicais (…), substituindo o governo minoritário do PDPA por outro governo minoritário.” (Marsden, 2002: 62)

O Islão contemporâneo é um movimento baseado numa concepção de revivalismo – resulta de um ressurgimento originado pela falência das ideologias seculares, o nacionalismo árabe e o socialismo – e engloba um sistema político próprio que os islamistas querem implementar. Segundo Maria do Céu Pinto (2008: 21), a história do Islão “mostra a irrupção periódica de manifestações de ressurgimento religioso como resposta a situações de crise”, seja ela de que natureza for; ou seja, há um regresso aos preceitos originais, contra a decadência interna e as ameaças externas. E de tão abrangente que é o Islão, naturalmente que este abrange uma grande diversidade de tipos de praticantes, de empenhamento e da visão do estabelecimento dos valores do Islão: uns através do diálogo, outros da violência. (Idem: 25)»

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