terça-feira, 30 de março de 2010

Em pontas...

Como escrevi ontem, as relações transatlânticas baseiam-se num pedinchar europeu por um estatuto que não conseguem alcançar sem a aprovação da Casa Branca. Washington diz que tem uma relação muito especial com a Europa, mas quando esta coloca um entrave não pensa duas vezes em formar coligações diferentes, seja com quem for - são as famosas coligações da vontade americanas que vimos no Iraque.

Ontem li ainda mais uma notícia que focava as relações transatlânticas e a Europa em si. Uma era sobre a recepção do casal Bruni-Sarkozy pelo casal Obama. Achei engraçadas algumas informações adiantadas na notícia: 1. o jantar seria na residência do Presidente e não um jantar de Estado, demonstrando uma grande ligação amistosa entre ambos os líderes; 2. a recepção não poderia vir numa altura melhor, depois do desastre das eleições francesas para Sarkozy, uma vez que a sua popularidade nunca esteve tão baixa e, passo a citar, "É possível que o seu nível de popularidade melhore, quando os franceses virem imagens do seu Presidente a apertar a mão a Obama.". 3. Sarkozy pedirá a Obama que trabalhe com a Europa: que coopere em termos militares, financeiros, ambientais, etc.

Ora, resumindo, uma imagem vale mais que mil palavras e é o caso: repare-se na fotografia abaixo. O mesmo sentimento de inferioridade de Sarkozy em termos da sua altura, o que o faz constantemente andar em bicos de pés, é o mesmo sentimento de castração dos europeus no geral em relação à América. Os EUA detêm a influência que outrora ia rodando entre países exclusivamente europeus: França, Alemanha, Reino Unido... E isso deixa marcas. O Reino Unido não se importa de ser o "second best" para ter um lugarzinho de especial relevo nas relações com Washington e será que o tem mesmo? O nível de popularidade de Sarkozy aumentará se ele apertar a mão a Obama? Um jantar na residência oficial demonstra grande amizade? Será Sarkozy o primeiro a lá estar?

A Europa dirige-se aos EUA com reverência, pedindo, implorando para que estes lhes atribuam o estatuto que almejam os europeus.

E tudo se resume a isso: pequeninos, em pontas dos pés...


6 comentários:

  1. Sinceramente, não sei. Não sei mesmo. Há quem diga que a Europa está a ficar cada vez mais para trás atendendo à emergência dos BRIC; outros acham que o papel normativo da UE continua muito sólido e na liderança. Relativamente ao que fazer, é muito complicado. As questões da globalização e das dinâmicas transnacionais ultrapassam a capacidade dos governos em alterarem rapidamente esta situação. Até que ponto o conseguirão? Até que ponto estarão interessados? Será que a progressiva supranacionalidade e federalização da Europa poderá ajudar a recuperar esse "leading role"? Em termos económicos, achas que poderá acontecer uma viragem da situação comercial e financeira internacionais no sentido de tornar a Europa um parceiro privilegiado? Uns "Estados Unidos Europeus?"

    ResponderEliminar
  2. Até podia, mas a Europa está longe de ser uma Zona Monetária Óptima, por exemplo (como se está a ver agora muito bem!!!). Antes de ser uns EU Europeus tinha de assegurar a sua própria coesão económica, o que se tem visto em risco.

    ResponderEliminar
  3. Pois.. Porque tem havido um esforço crescente na coesão política, através dos alargamentos e da integração também ela política, em detrimento da vertente económica, nitidamente.. Foi uma escolha; e teve o seu custo de oportunidade.

    ResponderEliminar
  4. Eu acho que foi um ignorar da lei da identidade para prosseguir excessos epistemológicos. Mas já conheces a nossa sempiterna disputa no que toca às leituras dos fenómenos... =P

    ResponderEliminar