segunda-feira, 2 de maio de 2011

A morte de Osama bin Laden

A morte de Osama bin Laden foi anunciada esta madrugada pelo Presidente dos Estados Unidos. Não posso dizer nada que ainda não tenha sido dito; posso apenas reforçar aquilo que me parece ser importante numa altura destas e, principalmente, sobre a perspectiva das Relações Internacionais.

Em primeiro lugar, penso que não seja bom exultar a morte de um ser humano seja ele qual for.

Merkel festejou.
A UE festejou.
Portugal idem.
Praticamente toda a gente


 Que a sua morte possa ter sido percepcionada como um alívio ou um sentimento de justiça por aqueles que sentiram de perto o sofrimento e a morte de milhares de pessoas em atentados que o senhor tenha planeado, compreendo perfeitamente. No entanto, o problema do fundamentalismo e do terrorismo, da violência e do terror gratuitos, do prazer em causar dor e sentimento de perda tem que ser analisado com uma serenidade que um momento como este não dá. As razões que subjazem à existência de movimentos deste género e a melhor forma de preveni-los devem, na minha perspectiva, conduzir todos aqueles com responsabilidades, quer seja a Academia quer os líderes políticos. Para mim, e ainda antes de avaliar o lado internacionalista da questão, a celebração de qualquer morte não faz sentido; assim como não faz a pena de morte ou outras coisas semelhantes – apesar de compreender, como já disse, que este sentimento de vingança possa existir naqueles que sofreram. Ainda assim, como assunto de estado, não houve justiça. Houve uma morte em resposta a outras mortes, elas próprias criticadas. Não aponto o dedo à administração Obama que cumpriu uma das estratégias mais desejadas por todos, mas celebrar um morte continua a ser muito difícil de digerir para mim.

(Amanhã o resto do post, a tal versão mais internacionalista. Agora foi só um desabafo.)

4 comentários:

  1. Andreuccio,

    Estou felicíssimo por o Osama ter morrido. Fiquei alegre e contente. Há uma diferença entre prazer em causar dor e sentimento de perda (em geral uma manifestação de inveja) e um sentimento de justiça feita. Mais do que ele ter morrido, é o ele ter sido esmagado. A morte é final, e ele acabou, cessou, terminou. Não há mais Osama consciente. Ele ainda está aí pelo simples facto de que o que ele representa ainda viver, mas a estrita corporalidade e estrita concretização substancial FOI-SE!

    A pena de morte é um assunto muito particular, que neste caso não se aplica. Pelo que entendo ele foi abatido para se proteger a integridade dos agentes americanos, portanto mesmo em Portugal ele teria sido morto...

    Sentiste necessidade de desabafar porque tens esse absoluto de que não há corrupção humana fundamental. Se ele era mau, é porque enfim, é de outra cultura, deve ter tido uma mãe que não lhe fazia bolos sempre que ele queria, e muitas espinhas na adolescência. Ele não tem culpa de ser assim. A vida dele é uma tragédia e portanto a morte dele, apesar de um alívio, deve trazer-nos tristeza por todo o Pathos da situação.

    Bullshit! Ele era um indivíduo que fez escolhas e que promoveu estados de coisas para mim eticamente abomináveis. Sinto portanto alegria por ele não existir mais. E é um júbilo intelectual: sinto-me alegre porque me sinto mais seguro e porque olho para o real e codifico-o como mais justo do que ontem por esta hora.

    É muito europeia a tua atitude. Mas hoje o dia é dos americanos. God bless them! =)

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  2. Diogo,

    Eu compreendo a tua argumentação. Só não partilho do teu sentimento de justiça. É que pensar-se que a morte de Bin Laden traz segurança ao mundo é um engano na maior parte das vezes, a morte de um líder querido pode dar mais força e revigorar uma organização, logo o perigo de ataque aumenta.

    Em termos estratégicos, eu não censurei o acto. Para se protegerem os militares, matou-se um alvo, tudo bem para mim. Quantos iraquianos já foram mortos assim e quantos americanos também. É a guerra e não há nada a fazer.

    No entanto, a celebração da morte é que me custa a aceitar. Apesar de ter sido ele o responsável pela morte de vidas humanas, mais uma morte não significa poupar outras vidas. A detenção seria melhor; sendo impossível, a morte, seja, mas sem a sua celebração. Porque os americanos matam afegãos todos os dias e não andam para aí a bater palmas. Aquela ideia do olho por olho que já li mil vezes mete-me confusão, como sabes.

    Quanto à personagem em si, eu abominava o homem, como qualquer pessoa com bom senso. E aquilo eram mesmo más escolhas e não necessariamente um acaso da vida. Há muita gente que não tem que comer e que não se diverte a mandar matar centenas de pessoas. Por isso, o castigo ao bin Laden era necessário e desejável do ponto de vista da justiça. A celebração dessa morte, a sua exposição mediática (à semelhança do que se fez com o então líder do Iraque) e tudo o que se lhe segue é que me cuta a digerir.

    E se os americanos ajudaram agora a tornar o mundo mais seguro (o que e discutível), também foram eles que iniciaram muitas guerras desnecessárias (Iraques e afins).

    God bless me! :P

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  3. God is too busy throwing a "he's dead! let's disco!" party to bless you... =P

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  4. Following that logic, then God is also too busy to bless America! ;)

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