quinta-feira, 19 de maio de 2011

Os militares na Turquia

Estou a escrever um artigo sobre o papel dos militares na democracia turca e tenho um dilema para resolver. Quanto mais leio e quanto mais escrevo, mais confuso fico e com mais perguntas e menos respostas. E pensei por tantas vezes estar já decidido...


Os militares são muito respeitados na Turquia - ao ponto da população confiar mais nas Forças Armadas (FA) do que nos próprios políticos ou instituições políticas democráticas do seu país. Foi das FA que surgiu Atatürk, um dos responsáveis pela secularização do país e pelo estabelecimento da República e da "democracia", ainda muito embrional, mas que entretanto foi melhorando. As FA intervieram várias vezes desde 1923, retirando o poder às forças civis, com o objectivo de retomar a ordem e impedir o ressurgimento do Islão político, entregando novamente o poder quando assim o entendiam. Nesta perspectiva, "ajudaram" a democracia que por vezes não estava no seu melhor desempenho. Por outro lado, conseguiu sempre manter o secularismo do país (segundo muitos, os únicos a conseguir evitar o tal ressurgimento islâmico), constribuindo para uma sociedade islâmica na sua esmagadora maioria, mas moderada e constitucionalmente laica. Os militares turcos consideram-se os guardiães da Constituição e dos princípios kemalistas, nomeadamente do pendor europeísta do país, assim como da sua natureza democrática e laica, nomeadamente.

No entanto, essas intervenções que ocorreram desde a década de 60 com uma periodicidade quase a cada dez anos, podem igualmente ser vistas como um entrave ao livre desenvolvimento da democracia, sendo que a população esperava sempre que esta instituição fosse colmatar ou corrigir as falhas do sistema democrático. Com a aproximação a UE, a influência das FA turcas tem vindo a diminuir, no sentido do respeito pelo Estado de direito e outros princípios democráticos. 

Agora, a minha questão: afinal os militares contribuiram para a consolidação democrática turca ou não? 

A minha resposta? Como disse, ainda não a encontrei e tal está a atrasar o artigo, mas aponto para que as FA tenham sido um importante elemento para o estabelecimento da democracia no país, com algum relevo na sua consolidação, mas que o seu papel actualmente tem que ser muito limitado, caso não queiram deteriorar a democracia turca e a sua aproximação à Europa, como defendem. Não obstante, e se o Islão se aproveita desse afastamento dos militares e deteriora ele próprio essa mesma democracia? Há quem diga que Erdogan tem uma agenda política escondida que passa pelo reforço do carácter religioso do país... E esta, hem?

(Bem, já escrevi este post há uns dias e penso já ter-me decidido...)

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