Pois a revolução na Tunísia não foi caso único neste início de ano, como bem se sabe. O medo das revoluções dominó ou da força gravitacional das democracias e da sua instalação (sobre a questão da gravidade democrática, há um artigo muito interessante cuja referência bibliográfica deixarei em baixo*) acabou por concretizar-se no Egito (parece que agora tenho que escrever assim, não é?), no Iémen e mais recentemente algumas manifestações também na Albânia (que não sendo Médio Oriente, é mediterrânico e, por isso, bastante próximo).
Começando pelo último, as notícias que chegaram na altura em que escrevo este post dão conta de movimentações populares que pedem eleições antecipadas. Não me parece que este caso se aproxime dos restantes três, mas é nitidamente um efeito de contágio que deu coragem à população para exigir, de forma mais proactiva, as tais eleições antecipadas.

Finalmente, o Egipto tem sido o caso mais falado. Directamente influenciado pela experiência tunisina e também ele em fúria pelas condições de vida e pela perpetuação do seu Presidente no cargo, as manifestações têm sido muitas, assim como o desrespeito pelo recolher obrigatório, os confrontos com o exército,… Enfim… Uma revolução com muita perseverança dos cidadãos, que não arredam pé até conseguirem que Mubarak abandone efectivamente o poder. Já não se acreditam em promessas de não recandidatura – querem a saída imediata. E, como dizia uma notícia do Público, ninguém “cedeu no ‘dia da partida’” – o dia que Mubarak abandonaria esse mesmo poder.
(Também na Jordânia aconteceram algumas manifestações e o Rei demitiu o Primeiro-Ministro, mas a situação tem sido menos acompanhada, talvez pela menor força dessas mesmas manifestações e pela suposta acalmia gerada com essa mudança.)
(Ahmadinejad veio dizer que as revoluções a que assistimos começaram no Irão... - Não, não é piada.)
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*Emerson, Michael; Noutcheva, Gergana. (2004) “Europeanisation as a Gravity Model of Democratisation”, Centre for European Policy Studies, Working Document no. 214, November, http://www.ceps.eu/files/book/1175.pdf
No que diz respeito à Jordânia, considero que foi uma "jogada inteligente" por assim dizer. Derrubar regimes não-democráticos é muito bom - e desejável - na teoria, mas na prática todos sabemos que as coisas não correm de forma suave. Logo, quaisquer "sinais de abertura" levados a cabo pelo próprio governo são de louvar.
ResponderEliminarP.S. Não vou comentar a posição do Irão. Não sei se ria ou se chore.
Claro que o ideal é uma transição pacífica e progressiva onde ninguém se magoe, como têm sido os últimos casos. O problema é quando essas mudanças são meramente cosméticas, de forma, e não de conteúdo. É uma questão de acompanhar a evolução, se bem que é sempre difícil que as mesmas elites que estavam numa situação ditatorial transitem pacificamente para uma mais democrática.
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