Num terceiro post sobre a questão sudanesa, deixo alguns excertos de um interessante artigo do Público, da autoria de Jorge Almeida Fernandes que pode ser lido na íntegra aqui.
“Os americanos tendem a olhar o conflito em termos de “choque das civilizações”. Para as igrejas pentecostalistas americanas, o Sudão é um palco da guerra entre o islão e a cristandade. Para os negros americanos, é a emancipação dos antigos escravos contra os esclavagistas árabes. Não é o petróleo que faz mover Washington: é a localização geopolítica do país e, sobretudo, a opinião pública americana.
As coisas são mais complicadas. O conflito remonta a dois momentos distintos. O primeiro é a constituição do Sudão moderno. O segundo é a longa guerra Sul-Norte.
O Sudão sempre foi uma área de interesse do Egipto: é vital para o controlo da água do Nilo. Foram os egípcios que o unifi caram e colonizaram a partir de 1821. Suplementarmente recrutavam no Sul escravos e soldados. Foram varridos por uma revolta políticoreligiosa, a do Mahdi, em 1883, que se estendeu a todo o país. Os britânicos, que tinham o desígnio de unir o Sudão à Cidade do Cabo por um caminho-de-ferro, socorreram o Egipto e, à segunda tentativa, em 1899, esmagaram o exército do Mahdi e estabeleceram um condomínio anglo-egípcio sobre o Sudão. Durará até à independência. O Cairo foi determinante na manutenção da unidade sudanesa: sempre o Nilo, que determina a sua economia.
As coisas são mais complicadas. O conflito remonta a dois momentos distintos. O primeiro é a constituição do Sudão moderno. O segundo é a longa guerra Sul-Norte.
O Sudão sempre foi uma área de interesse do Egipto: é vital para o controlo da água do Nilo. Foram os egípcios que o unifi caram e colonizaram a partir de 1821. Suplementarmente recrutavam no Sul escravos e soldados. Foram varridos por uma revolta políticoreligiosa, a do Mahdi, em 1883, que se estendeu a todo o país. Os britânicos, que tinham o desígnio de unir o Sudão à Cidade do Cabo por um caminho-de-ferro, socorreram o Egipto e, à segunda tentativa, em 1899, esmagaram o exército do Mahdi e estabeleceram um condomínio anglo-egípcio sobre o Sudão. Durará até à independência. O Cairo foi determinante na manutenção da unidade sudanesa: sempre o Nilo, que determina a sua economia.
(…)
O Egipto, sempre preocupado com o acordo de distribuição da água do Nilo, continua a exigir a unidade sudanesa. A União Africana reafirma a intangibilidade das fronteiras e teme um efeito “bola de neve” sobre outros focos secessionistas. Mas os países da África Oriental apoiam a independência – vêem no novo Estado a fronteira geopolítica entre a esfera africana e a esfera árabe do continente, uma “segunda descolonização”.
O destino de Bashir
O destino de Bashir
Omar al-Bashir tomou o poder em Cartum em 1989, tendo como mentor o teórico islamista Hassan al- Tourabi. Este terá tentado destituir Bashir em 1999. Foi ostracizado e depois preso. Libertado em 2005, é o pesadelo do poder. Ele e os nacionalistas, de inspiração nasserista, acusam agora Bashir de vender o país e anunciam antecipadamente uma revolta contra a independência do Sul. O mesmo fazem, em tom agressivo, outros países árabes e todos os islamistas. Bashir responde que, em caso de secessão, a lei islâmica será radicalizada no Norte.
Os islamistas temem perder uma base. Os EUA fazem promessas a Bashir se ele se “portar bem”. É uma incógnita. Se o Sul se arrisca a ser um “Estado falhado”, a separação fará do Norte um “país pobre”. Bashir não tem condições para recomeçar a guerra no Sul. Mas que acontecerá se for derrubado?
A porta de saída seria um rápido acordo entre Cartum e Juba sobre o petróleo, o que não é simples, pois entram em choque as ambições. O Quénia gostaria de ver o petróleo sudanês escoado por um porto seu, o que incentiva o Sul a subir a parada. A China, principal explorador do petróleo sudanês, pode ser a chave. Não quer guerra. Será o mediador mais eficaz.
Como quase sempre, a sorte ou a tragédia de um país são desenhadas pela sua riqueza: neste caso, as águas do Nilo e o petróleo.”
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