Já há vários dias, escrevi um comentário sobre a situação no Sudão. Apesar de haver alguma distância em termos de tempo, não queria deixar por aí pontas soltas.
Como disse por várias vezes, não sou especialista em África; mesmo assim, arrisco alguns comentários:
O risco de desintegração do Sudão era já bastante elevado. Como se sabe, este país é geograficamente imenso, o que não significa nada por si só, mas que, juntamente com outros factores importantes, nos remete para uma análise mais cuidada da sua integridade. Por exemplo, em termos religiosos, a divisão Norte/Sul ou Muçulmana/Cristã deve ser tida em conta nessa mesma análise. Economicamente falando, o petróleo está no sul e tem que ser exportado pelo norte.
Agora, até que ponto será possível criar dois estados funcionais? Desconheço a realidade sudanesa, mas, pelo que li, não há estruturas burocráticas nem um exército no sul do país, nomeadamente. E isso pode constituir um grande perigo para a concretização desta divisão.
Isto porque, apesar de 99% dos que foram às urnas quererem esta cisão, o que é facto é que o problema está na sua concretização prática. No entanto, a taxa de participação de 60% demonstra precisamente que há uma vontade popular na constituição de uma nova entidade soberana e na sua separação de um estado com o qual, pelos vistos, não se identifica. E, segundo o direito internacional, os povos têm direito à sua auto-governação, à sua auto-determinação e o tempo dos impérios multiétnicos já passou, em princípio. A minha única preocupação é a paz; a paz e a segurança dos cidadãos que espero que esteja assegurada – piorar, penso que não piora.
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