sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Também é por isto se dão as revoluções I

Os motivos das revoluções, assim como os motivos de qualquer outro fenómeno, são sempre variados.

Mas um deles pode precisamente ser esta descrição da actuação da polícia egípcia:

(Não reproduzo imagens de Khaled Said aqui, principalmente pelo impacto da sua desfiguração após o ataque policial, mas qualquer pessoa menos impressionável pode procurá-las na Internet. Mas fica de qualquer forma )

"Passava pouco das onze e meia da noite quando Said chegou ao café e, mal tinha acabado de cumprimentar um amigo, entraram dois polícias vestidos à civil. Dirigiram-se directamente a ele, pedindo-lhe identificação. "Vieram por causa dele. Nunca tinham cá entrado membros da polícia secreta", contou agora ao diário espanhol El País Ahmed Manduah, um empregado do café de 20 anos. O filho do dono do café, Haitham Misbah, diz que, ao ver os dois homens agarrar Khaled, lhes perguntou o que estavam a fazer. "Cala-te ou fechamos o café", responderam.

Khaled tentou resistir. "Agarraram-lhe na cabeça e bateram contra uma prateleira de mármore", conta Misbah, num testemunho citado pela Human Rights Watch. Arrastaram-no para a rua. "Bateram com a cabeça contra uma porta de ferro. Bateram-lhe na cara e estômago. Deram-lhe pontapés com tanta força que ele caiu de um degrau. Pegaram-lhe pelo pescoço e bateram com a sua cabeça contra o degrau."

Outras testemunhas contam que Khaled ainda disse: "Estou a morrer." Os pontapés continuaram mesmo quando ele já não se mexia. "Estás a fingir que estás morto?", gritou um dos polícias, antes de ir embora e deixar Khaled na rua. Pouco depois, uma carrinha da polícia levou o corpo.

As autoridades disseram que Khaled morreu ao engolir um saco da marijuana para a esconder da polícia. Não deixaram a família ver o corpo.

Um vídeo denunciando polícias

A polícia terá atacado Khaled por suspeitar que este tinha filmado um vídeo mostrando um grupo de polícias dividindo entre si droga apreendida numa operação. Não é claro se terá sido o próprio Khaled a colocar o vídeo online.

As fotografias tiradas com um telemóvel na morgue mostrando a face desfigurada de Khaled chegaram à Internet, não se sabe bem como. Khaled Said tornou-se um sinónimo das consequências da lei de emergência, um símbolo para jovens normais de classe média, sem actividade política, que perceberam que também eles poderiam ser arrastados de um cibercafé e mortos: Somos todos Khaled Said, como dizia a página do Facebook criada cinco dias após a sua morte. A página registou 4 mil seguidores na primeira hora após a sua criação (agora tem mais de 57 mil e continua a crescer). Começou por mostrar as imagens brutais do cadáver, dar informações sobre a investigação: o primeiro inquérito concluiu que a morte tinha sido causada por asfixia."


A notícia pode ser lida na íntegra aqui.

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