terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Alemanha e a sua política externa

Angela Merkel é, para mim, uma figura importante para a Europa. Marcada por uma grande e já característica discrição, a sua política externa parece começar a tornar-se mais visível nesta legilatura, uma vez que não tem já o constrangimento do SPD. Mesmo não partilhando eu os ideais do seu partido e da sua posição ideológica, agrada-me a figura de Merkel para a liderança de um país com um papel tão importante em termos europeus como a Alemanha e que me é particular e emocionalmente próximo.


Em termos de política externa, uma reaproximação aos EUA, depois do afastamento com Schröder parece-me evidente; mas, simultaneamente, a chanceler alemã deverá, a meu ver, defender ou reforçar a posição da RFA num mundo para o qual ela ainda dá algumas cartas, mesmo apesar da sua "fraqueza" em termos militares. É o claro apelo à mulipolaridade para ter a oportunidade de se consolidar na cena internacional. Não podemos esquecer-nos que Merkel é considerada a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes e que a Alemanha é o país do qual os outros têm, mundialmente, uma melhor imagem.

Em termos de União Europeia, parece-me bastante previsível a continuação do empenho no projecto. Para tal, necessita de continuar as boas relações que tem consido manter com o Eliseu. Sarkozy gosta desta chanceler. E apesar da quantidade de beijos que o Presidente francês dá à chanceler quando se cumprimentam, prática não muito comum do outro lado da fronteira, Merkel também não desgosta de Sarkozy.

Assusta-me apenas um "pequeno" pormenor nesta nova política externa: não é o novo vigor da chanceler, mas o próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros, Westerwelle, que tem assim umas ideias confusas relativamente ao apoio humanitário alemão, que é dos mais fortes mundialmente. Temo por esse lado humanista da acção externa alemã. A ver vamos.

5 comentários:

  1. Só é triste que se use uma palavra tão bonita como humanismo para descrever o apontar de uma arma às carteiras e rendimentos dos nossos vizinhos e concidadãos... Ideias confusas dizes tu?

    É muito fácil ser-se "humanista" quando somos burocratas num escritório quentinho e só temos de assinar um documento para brutal e violentamente roubar os recursos que outros produziram para depois os distribuir (o que sobrar...) como nos aprouver (provavelmente de forma a maximizar o número de votos nas próximas eleições...)

    Abraço

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  2. Não é só e apenas uma questão de votos ou popularidade. Nós somos humanistas nos escritórios por defenderemos e promovermos essas acções, outros porque repartem o seu rendimento e outros o são no terreno, concretizando a causa.

    Retirar recursos ou rendimentos a uns e redistribui-los não é um assalto, desde que aplicados da forma anteriormente combinada - quer dizer, consoante o acordado nas eleições, daí o voto de confiança. É uma questão de justiça global. A redistribuição é positiva. Compreendo a frustração de quem perde um par de euros, mas há um certo altruísmo que tem que se defender. Eu sei que pode parecer muito coercivo e tudo mais, mas há um certo equilíbrio e igualdade que devem ser mantidos ou defendidos, porque há situações graves de conflitos, deslocados, refugiados. Não pode ignorar-se essa realidade; não podemos abandoná-los à sorte deles só por uma questão de egoísmo - eu tenho rendimentos e não os partilho. É uma questão que considero fundamental, ideológica e é claro que muito discutível, mas uma questão de princípios e valores.

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  3. André o voto democrático não legitima violação de direitos fundamentais. E considero muito ingénuo assumires a agregação de votos como "um acordo".

    Usaste as palavras certas: altruísmo e sacrifício. Falas em princípios e valores... Pois eu não consigo conceber o ser humano como uma entidade sacrificial, como uma vaca leiteira a ser explorada pela colectividade. Cada indivíduo é inviolável no seu corpo e na extensão deste, a sua propriedade. E se consideras que "não é tudo preto e branco" ou que "temos de ser pragmáticos" então por favor não me digas que "é uma questão de princípios e valores". Seria o mesmo que reconhecer a um assaltante o direito a x% da minha riqueza...

    E não tens de abandonar o apoio humanitário e a entre-ajuda! Dedica-te a criar instituições que apelem ao apoio VOLUNTÁRIO das pessoas. Não tens legitimidade para usar força física para lhes roubar o rendimento. Procurar a colaboração voluntária é que é agir com integridade.

    Porque saltas da ajuda para a coerção? Achas que as pessoas precisam de um Estado para distribuírem o seu rendimento? Crês que os indivíduos são inerentemente corruptos?

    Abraço

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  4. Desculpa, Diogo. As idas a Lisboa não me deixam muito tempo e demoro mais do que o que seria desejável.
    De forma muito sucinta, acho que são visões diametralmente opostas, com ideologias subjacentes incompatíveis. Não considero uma violação de direitos fundamentais. Todos os que estão na sociedade sabem-se à partida sujeitos a essa partilha, que não tem que ser negativa. É uma questão de se colmatarem injustiças ou diferenças de oportunidades que dão a certos indivíduos uma existência infeliz, que pode ser contrariada ou melhorada com uma ajuda dos restantes membros que criaram mais ou menos passivamente a sociedade que não permitiu que os outros se desenvolvessem em plenitude. É uma questão de oportunidade, de possibilidade de ultrapassar certos obstáculos que a vida coloca sem que tenhamos, muitas vezes, responsabilidade directa sobre isso… As pessoas, quer não sejam naturalmente boas quer sejam entretanto corrompidas pela sociedade, muitas vezes não percebem e não têm noção da importância que é a partilha de uma pequena parte do seu rendimento para um bem geral e comum. É do que se trata. Não são sacrifícios na concepção mais sofredora do termo. A colaboração voluntária, como se vê actualmente pela quantidade de pessoas que o fazem, não é suficiente para colmatar diferenças. Eu só pretendo que essas pequenas parcelas que cada um de nós cede à sociedade sirva para promover um bem-estar geral dessa mesma sociedade no sentido em que cada um tenha, à partida e sem exclusões, igualdade de oportunidades. É impossível isso acontecer, mas consegue-se diminuir as diferenças, os hiatos que separam os indivíduos injustamente quando todos nasceram não no mesmo contexto ou com as mesmas condições, mas iguais em potência. Dar a possibilidade de desenvolver essa potência em devir é dever da sociedade, do grupo alargado. Se formos pelo teu raciocínio, qualquer um de nós que venda a sua força de trabalho e crie quantidades imensas de lucro que nunca chega a ver está igualmente a ser explorado. E no entanto não é isso que dizem os gestores das empresas ou aqueles que dividem entre si os lucros criados por outrem a quem nem sequer prestam contas. Isso é exploração na mesma medida. Aí sim há uma vaca leiteira, que não dá o seu leite à sociedade, mas a meia dúzia de membros da sociedade. E aquilo que eu defendo é que se dê a possibilidade a essa vaca de, com o pequeno contributo de outras vacas, consiga extrair de si a quantidade máxima de leite, para aproveitar aquilo com que nasceu e que pode oferecer a todos… A diferença está aí…

    Um abraço!

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  5. Desculpa a qualidade do texto... Não tive tempo para ligar à forma; só uma passagem rápida pelo conteúdo.

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