segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Obama na Ásia II

Tem havido, nos últimos anos, uma corrente que defende com grande veemência a emergência da China enquanto verdadeiro challenger dos Estados Unidos; aquele seria capaz de aproveitar este momento em que os EUA não dominavam um mundo unipolar, mas onde tinham que criar coligações e amizades para atingir os seus objectivos, que é o que actualmente têm feito.

No entanto, esta visão não me parece muito viável nos moldes em que a desenvolvem. Senão vejamos: é verdade que a China tem um efectivo militar de mais de dois milhões de homens, enquanto que os EUA contam apenas com 1,36; a China tem a maior população mundial e um dos maiores territórios. Poderia parecer sintomático. Há, todavia, uma séries de outros factores que contrariam esta visão.

A China tem uma população com frequentes motins internos, que nem com o controlo apertado (para ser simpático) conseguem conter – Xinjang é um exemplo recente. Ela tem que, sistematicamente, lutar e despender muitos recursos para manter o país unido, atendendo a situações como essas. A violação constante dos direitos humanos, o descontentamento social, as enormes diferenças sociais, uma litoralização crescente, a concentração urbana desmesurada, etc. são questões que têm que ser tidas em conta. Nenhum país pode liderar a comunidade internacional quando tem no Norte do seu território um problema gravíssimo de água, que muito brevemente irá afectar 300 milhões de pessoas. Além disso, tem ainda questões como o Tibete, que não consegue definir claramente, nem com o uso da força contra os monges; ou ainda mais vergonhosa a situação de Taiwan (aquela imensa ilha!), que não consegue recuperar.

Dizem ainda que a China é uma grande potência económica e capaz de fazer frente à economia americana. Não posso desenvolver muito aqui, pela sua extensão, argumentos para o contradizer, mas tal como o professor Carlos Gaspar ironizava no outro dia, ser a “fábrica de sapatos de plástico do mundo” não é propriamente o mesmo do que produzir sistemas avançados de telecomunicações entre aviões, por exemplo.

Serem os credores dos Estados Unidos também não chega, uma vez que se estes fecharem as suas portas às importações chinesas, o país tem que abrandar nas suas exportações. Há uma teia de dependências que não pode ser analisada apenas por estas questões dos títulos do tesouro que muita gente vem denunciando nos últimos tempos. Como afirmava Hillary Clinton, nisto da crise, ou caíam os dois ou recuperavam os dois.

E combater a crise construindo infra-estruturas básicas, como pontes e estradas (como faz a China, à semelhança dos EUA no pós-I Guerra Mundial), não é o mesmo que apostar na inovação tecnológica.

Estas são questões, que podem parecer menores, fazem toda a diferença. Na verdade, a China tem um poder crescente, mas tem igualmente uma situação muito delicada que tem que ser analisada com mais cuidado (muito mais ainda do que o fiz aqui) para perceber a sua dinâmica. Por enquanto, nem os Estados Unidos podem actuar sozinhos, nem nenhum outro país pode actuar sem os Estados Unidos, como afirmou, perspicazmente, o seu presidente.

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