Respeito, naturalmente, a valor e a qualidade das teorias defendidas pelos vários autores apresentadas no artigo anterior. Não pretendo, de forma alguma, fazer-lhes frente por razões muito óbvias. Contudo, há algumas questões que eu considero pertinente levantar.
Os BRIC são, para mim, um grupo de países que tem apenas um aspecto em comum: o (res)surgimento das suas economias. Como são economias que estão nessa mesma fase, têm crescimentos acelerados, contrariamente ao que acontece com economias já há muito quase nos topos do seu desenvolvimento e que têm crescimentos residuais, o que se compreende facilmente. Mas tirando isso, o que há mais entre os quatro que possa uni-los? Acho que muito pouco. Realmente eles dificilmente farão parte de um grupo de aliança que possa fazer frente directamente à liderança americana, por exemplo. Brasil, Rússia, Índia, China têm interesses bastante diferentes e mesmo em termos do sistema, localizam-se em pontos muito distintos; há, para mim, muito pouco que funcione como cimento entre os quatro. É uma associação tácita e muito momentânea. Aí estou de acordo com os autores.
No entanto, penso que estar a pôr a Rússia entre esses dois extremos é muito arriscado em termos de previsões. A Rússia é uma potência nuclear, com grande capacidade de venda de armas (o que significa que tê-la como aliado é muito importante na luta contra a proliferação de armamento), além de que é, actualmente, o maior exportador mundial de gás e um dos maiores de petróleo. Não será muito limitadora essa visão de subserviente da Europa ou da China? A mim parece-me. Ainda mais depois desta reaproximação estratégica com os EUA e do tão falado "reset" nas relações entre os dois. Obama tem apostado numa política de cooperação com Medvedev e não de confrontação.
Quanto à tese das “três aranhas”, lá está, penso que falta a Rússia e que se sobrevaloriza o papel das três potências iniciais. Talvez um bocadinho mais de multilateralidade fosse enriquecer a teoria: Rússia, Índia, Brasil. E não podemos deixar de destacar desse primeiro mundo os EUA enquanto líderes desse "concerto de nações". Não sei… Arrisco eu…
André, artigo interessante.
ResponderEliminarO teu uso da expressão "topo do desenvolvimento" e a associação a esse estado de um "crescimento residual" (em comparação com outros países) chamaram-me particularmente à atenção. Porque consideras isto intuitivo?
Abraço