sábado, 23 de janeiro de 2010

Imigração é necessidade e não fardo

"A imigração é uma necessidade de médio e longo prazo, embora provoque emoções a curto prazo."


Esta foi uma das frases de Felipe González numa conferência sobre pobreza e exclusão social, tema trazido à discussão pela presidência espanhola da União Europeia.

"O problema não é a população que temos. O problema é: com a população que temos, como criar uma economia sustentável?"

González apontou ainda uma série de sugestões para combater a situação demográfica preocupante da Europa, nomeadamente a utilização da mão-de-obra imigrante e inclusão de mais mulheres no mercado de trabalho, com especial atenção para as jovens mulheres, normalmente discriminadas porque em idade de procriação, no sentido de promover o seu bem-estar económico e facilitar a natalidade.

Esta posição fez-se ouvir nas vésperas da discussão da Estratégia 2020, que substituirá a não muito bem sucedida Estratégia de Lisboa, e é um sinal positivo, desde que a visão veiculada por González e outras preocupações sociais estejam incluídas no novo plano, com medidas concretas e viáveis.

(A notícia pode ser lida aqui)

5 comentários:

  1. Às vezes fico assustado com o grau de evasão à realidade que a pseudo-elite política demonstra. Esse senhor quis mesmo dizer o que disse ou foi só para cair nas boas graças do profundamente ignorante? Porque eu nem sei como é possível alguém aplaudir contradições.

    Por mais erros que cometam (ex.: crise financeira), por mais metas nunca atingidas (ex.: estratégia de Lisboa), por mais vergonhas que passem (ex.: escândalo das despesas no RU) os burocratas NUNCA pensam que, se calhar, deviam começar por se reformarem a si em vez de se acharem intelectualmente superiores à população logo com maior capacidade de decidir do que ela.

    As jovens mulheres são discriminadas porque o nosso enquadramento procura ignorar que A é A. E apesar de anos e anos de leis leizinhas leizecas, coerções coerçõezinhas coerçõezecas, subsídios subsidiosinhos subsidiozecos, as diferenças salariais entre homens e mulheres continuam no mesmo nível e a natalidade continua a diminuir... Mas claro que o falhanço não é do legislador nem do burocrata: é do patrão egoísta sem consciência social e do marido repressor que não respeita a carreira da sua esposa.

    Outra graça da "demografia preocupante" é que a preocupação é o saldo da segurança social mais do que tudo. Em geral é logo isso que apontam! Afinal os cidadãos são vacas leiteiras para sustentar o sistema do burocrata e votar nele, não fins em si mesmo...

    O mais acabado exemplo da incompetência da classe política e da insustentabilidade do sistema político está justamente na imigração. Quem é o burocrata para decidir quantos ou quem tem direito de se estabelecer num país? A sua única função é assegurar de que não há uso da força. Mas claro... Tanta perda de poder é muito desconfortável e, como toda a gente minimamente educada sabe, o objectivo do político é e sempre foi o seu interesse pessoal. (Nem conheço nenhum modelo económico que assuma diferentemente...)

    O que é engraçado é que pelos vistos as pessoas acham que auto-interesse político é mais nobre do que auto-interesse económico. Apesar daquele implicar o uso da violência, e este não.

    ResponderEliminar
  2. Estava à espera do teu comentário ;)

    "é do patrão egoísta sem consciência social e do marido repressor que não respeita a carreira da sua esposa." Não posso estar mais de acordo; assim como com a referência que fizeste à necessidade dos burocratas se reformarem a si primeiro...

    Não conti uma gargalhada com a das vacas leiteiras. É uma questão económica, está mais do que visto e não a levam em conta como o fim em si mesmo que deveriam considerar. No entanto, o que é certo é que implica igualmente consequências sociais muito práticas tendo em conta a realidade de Estado-providência que temos na Europa. De facto, é uma questão de falta de visão deles, mas a população agradece na mesma os dividendos que cobra daí (subsídios e etc).

    O interesse pessoal do político, regra geral, está em primeiro lugar - infelizmente temos que o admitir. Mas esclarece-me melhor essa tua frase sobre a imigração, por favor.

    Sim, e é verdadeira o teu último parágrafo. Se bem que por vezes o auto-interesse económico também possa implicar o uso da força. Há tantas mortes causadas por dinheiro e interesses económicos..

    Obrigado!

    ResponderEliminar
  3. Não considero responsabilidade do Estado determinar, em geral, quem pode ou não estabelecer-se num país. Qualquer indivíduo deve, por princípio, poder adquirir propriedade. (Qualquer que seja a conjuntura económica...)

    Naturalmente isto (como tudo o que é bom e decente...) só é sustentável com laissez-faire num Estado de direito (depois posso explicar-te porquê). Daí que a perda de poderes de que falei seja a dois níveis: um imediato pela perda do poder positivo de escolher quem entra ou não, e um generalizado pela instituição de um Estado libertário e moral.

    Claro que há aqui um problema que em economia se chama de "second best" pela natureza holística destas problemáticas. Se tu te vicias em heroina, de facto é o tomares a dose que te está a matar, mas deixares de tomar abruptamente ainda te mata mais depressa. O ideal é que nunca tivesses tomado e que voltes a ser saudável, mas DADO QUE estás viciado, o mecanismo tem de ser outro, envolvendo até a tomada de outras drogas. (Refiro-te ao conceito de "organic unity" do G.E.Moore)

    Não podia arranjar analogia melhor...

    Ah! E se o burocrata fosse competente, o auto-interesse económico NUNCA envolveria força.

    Não sei se respondi exactamente à pergunta... :/

    Abraço!!!

    ResponderEliminar
  4. Sim, respondeste e adorei a explicação dos conceitos com a analogia!

    Quanto ao primeiro ponto é que tenho algumas reticências. Não que o ache totalmente incorrecto, mas porque as coisas não são assim tão lineares. Eu sou a favor, como terás depreendido, da livre circulação das pessoas, o que significa que concordo com a base da tua ideia, assim como a noção de alguma perda de influência dos Estados.

    No entanto, o Estado, enquanto responsável pela segurança e bem-estar do país, do qual emana a sua própria soberania, tem que se precaver por questões de segurança e por isso não pode ser apenas "Entre quem quiser, quando quiser e como quiser; nós acolheremos toda a gente". Sou a favor da imigração, mas não posso deixar de compreender que os responsáveis políticos têm que ter cuidado. Estás a ignorar questões sociais, de integração, de aceitação, etc., que, para mim, são igualmente importantes ao direito de adquirir propriedade - como tu colocas a questão da imigração.

    Abraço!

    ResponderEliminar
  5. Sim sim esses pontos são importantíssimos! E a questão passa para a defesa preventiva por assim dizer ("não sei se aqueles 10000000000 de imigrantes daquele país onde fazem sacrifício humano vão causar distúrbios"). O controlo que seja corolário legítimo das funções defensoras do Estado é aceitável (admito que se trilha sempre no arbitrário), mas "questões sociais, integração, etc" não se encontram aqui excepto quando causa provável forte de distúrbio (aqui entendido como violação de direitos de propriedade). Até que ponto isto é uma barreira significativa, é uma discussão extensa e que entra, entre outros, pelos meios materiais das forças de segurança.

    Mas daí ter falado no laissez-faire. Ninguém viria à espera de um subsídio ou achando-se com direito a alguma coisa por ser "desprivilegiado". E eu acho que isto (expectativas) só por si faz uma diferença profunda. Além disso praticamente toda a propriedade seria privada com os direitos consequentes à discriminação. Se alguma minoria imigrante andasse a causar distúrbios seria facilmente discriminada e ostracizada (por hipótese com razões objectivas já que não é provável discriminação arbitrária nesse regime.)

    As eventuais dificuldades que um imigrante honesto pudesse encontrar pelo choque cultural seriam supridas por associações privadas e voluntárias de cidadãos benevolentes. Aliás considero um ponto-chave da visão libertária a noção de que numa sociedade em que o Estado (Força) se limita às funções de válvula de segurança, a benevolência, cordialidade e fraternidade serão tão comuns e universais como o canto do galo com o despontar da auróra de róseos dedos.

    Abraço

    ResponderEliminar