quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Direitos humanos e sapatos de plástico

O Times Online noticiou outro dia que um dissidente chinês, Liu Xiaobo, está no seu segundo ano de detenção sem ter sido oficializada uma acusação. Este escritor e professor universitário foi preso no ano passado por ter sido co-autor de uma petição online que alertava para as questões dos direitos humanos na China e para o sistema de partido único que está estabelecido no país. Justificaram-se as autoridades com a genérica frase do incitamento à subversão, que anda mais na boca das elites chinesas do que comida na da miserável população.

No dia seguinte, o mesmo jornal relatou os últimos desenvolvimentos deste caso: finalmente, um ano (e alguma mediatização) depois, a acusação foi formalmente apresentada: incitamento de subversão, com uma pena de prisão que pode chegar aos 15 anos. A mulher do também já presente em Tianamen e também já detido por isso, Liu Xia, leu o documento da acusação e não está optimista, pois é lá referido que foi um "crime grave".

Isto, por ter acontecido onde aconteceu, não é surpreendente nem nos deixa de boca aberta; não causa assim um escândalo tão grande e merecerá apenas uma breve peça num telejornal. Contudo, e para além das questões dos direitos humanos, que este senhor tão bem passou a conhecer, a pergunta que eu coloco é a seguinte: quem é que se lembra de dizer que a China é o challenger dos Estados Unidos?

Como pode um país destes fazer frente aos EUA e desafiar a sua posição de líder mundial?! Convenhamos que para "liderar" a comunidade internacional, não basta só dinheiro; há uma ideologia, questões morais e de princípios; os Estados Unidos falham em muitas, assim como qualquer outro país, mas a China abusa! Lá por produzir quantidades astronómicas de sapatos de plástico (desculpem, mas eu não consigo deixar de usar esta imagem tão ilustradora), não quer dizer que possa começar a definir os caminhos do mundo... Tem ainda um longo caminho a percorrer e uma economia a crescer à custa do sacrifício da população não basta, nem bastará.

3 comentários:

  1. A não ser que a comunidade internacional vá ao encontro da China nesses pontos que enumeraste.

    Afinal os direitos fundamentais, princípios e moralidade não são uma preocupação da UE, por exemplo. Aqui é cometido o mesmo tipo de abusos que lá, só que numa escala menor. Mas, no meu entender, com tendência nitidamente crescente!

    Um exemplo vem da tua querida Alemanha: todos os indivíduos do sexo masculino são escravizados durante um espaço de tempo ao serviço da colectividade. Chamam-lhe serviço militar ou, se o rapaz preferir, civil... Pois...

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  2. Bem, eu espero mesmo que isso não aconteça. Penso que, apesar de acontecimentos pontuais que podem efectivamente corroborar essa sensação de um crescendo em termos de abusos pela UE, a tendência não será essa. Os esforços no sentido contrário também existem: o acervo comunitário, a chamada der atenção para situações de violações dos DH, as preocupações ambientais agora em Copenhaga, fundos de coesão e aproximação, etc. Mesmo nesse caso que referiste (e discordando, como sabes, dessa perspectiva de imposição ou coerção às liberdades individuais), e mesmo sendo eu contra a conscriação militar obrigatória, o que é certo é que há uma evolução: dessa mesma conscrição militar obrigatória para uma de natureza civil; certamente mais tarde ambas serão de natureza voluntária, não sei. Custa-me é, em relação à Alemanha ou à restante UE, afirmar que o processo é paralelo ao da China, quando estas duas realidades são astronomicamente diferentes...

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  3. Astronomicamente diferentes em dimensão mas não em tipo. Era sobretudo isso que pretendia dizer.

    Entendo o teu raciocínio sobre a evolução, de militar para civil. Mas estou em completa oposição. Militar ainda tem aquela desculpa de que é para defender a integridade física dos cidadãos (e que é, porventura, A função do Estado). O serviço civil nem esta desculpa (esfarrapada) tem. De qualquer forma creio que não negas que ambos são escravatura.

    Continua com o bom trabalho.

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