quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Iémen e o perigo das cuecas

Parece ser uma piada, mas este título quer apenas chamar atenção para um acontecimento importantíssimo dos últimos dias (para além da questão iraniana, à qual me dedicarei amanhã).

Um atentado falhado não causa assim um tão grande impacto. Exceptuando, talvez, nos media americanos, que devem andar por esta hora a fazer um alarido com as questões de segurança no seu país, ao ponto de divulgarem já a imagem das cuecas do senhor que ia provocar a explosão no avião para Detroit.

Mas há inúmeras questões de fundo que se prendem com isto e que eu deixo aqui para reflexão.

1. Estes atentados vêm dar razão a Obama e ao seu reforço na luta contra a Al-Qaeda (organização que reivindicou o atentado falhado);

2. A Al-Qaeda não está, nem de longe nem de perto, imobilizada ou amputada; continua activa e sem problemas em causar mortes e chamar as atenções para a sua causa jihadista.

3. O fundamentalismo islâmico está a difundir-se e o Iémen é um dos locais mais propícios a essa disseminação, enquanto país pobre e com porblemas estruturais que é. A presença de jihadistas no Iémen é já muito forte e planeiam-se ataques a partir de lá.

4. Poderão os EUA vir a abrir uma terceira frente de guerra? Terminam de vez com o Iraque (já em vias de extinção enquanto palco de guerra activo) e viram-se para o Afeganistão e o Iémen? E quando deslocarem os fundamentalistas o seu ninho deste país da península arábica para outro como a Somália? Irão os EUA defender-se atacando também no Corno de África?

5. Qual o papel dos restantes países nesta história toda? Destruir um avião que chega aos EUA, mas que partiu da Europa não significa um perigo para todos? Uma necessidade de cooperação na resolução deste problema? Não se aperceberá a opinião pública europeia destas ameaças também à sua segurança?

Muitas outras questões poderia levantar aqui, como a da segurança nos aeroportos, mas limito-me a estas. Um atentado falhado no dia de Natal, a concretizar-se, iria espalhar o medo pelo mundo ocidental; o seu falhanço deveria alertar para a mesma situação, porque com ou sem a morte daqueles passageiros, a segurança do mundo continua frágil...

3 comentários:

  1. André, o tema é, de facto, importantíssimo.

    Pessoalmente creio que os americanos não podem continuar com a guerrinha faz de conta, morrem quinze soldados americanos para que as senhoras numa aldeia no Iraque possam ir ter aulas de tricot em segurança.

    Os direitos dos militares e civis inimigos devem ser tidos em conta mas os dos ocidentais também. Neste momento apenas desejava que os americanos usassem a sua máquina de guerra em força e resolvessem esta situação de uma vez por toda.

    Quanto à Europa, só espero atraso de vida, inconsistência e politiquice correcta. Há o outro lado da moeda como disse, mas já são muitos anos sob esta sombra do terrorismo. Não podemos esquecer o nosso lado.

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Tocaste no ponto certo da questão europeia, que também acaba por se estender aos EUA: politiquices... A influência de uma opnião pública volátil que acaba por determinar um não envolvimento sério. Cerca de 80% dos americanos eram a favor da intervenção no Afeganistão em 2001 e agora essa valor diminui acentuadamente para menos de 50%, o que tem repercussões em termos de envolvimento político... Votos, popularidade e politiquices...

    ResponderEliminar
  3. Creio que uma conclusão inevitável é de que os regimes democráticos têm de ser seriamente repensados. Mas há um grande entrave: a ideia de que a democracia é um fim e não um meio.

    Tu próprio cometeste esse erro no post sobre as torres da discórdia. É um erro muito comum que eu cometo várias vezes também.

    Abraço

    ResponderEliminar